Corpo activo dos BV de Salvação Pública-Vila Real,1897 |
Falo em nome da direcção da Associação de Bombeiros
Voluntários de Salvação Pública e Cruz Branca, que me mandatou para vos dirigir
umas breves palavras pelo facto de, há 120 anos, fazer parte do grupo dos seus
fundadores Francisco Ferreira da Costa Agarez, meu avô. O envolvimento activo
da família teve seguimento, e é com orgulho que invoco o meu pai, Alcídio
Agarez, o primeiro (ou dos primeiros) a conduzir a primeira ambulância, pois
teve carta de condução aos 18 anos.
Começo por manifestar o nosso agradecimento a quantos
tornaram possível esta exposição, o melhor presente que podia ser-nos
oferecido. Obrigados Senhor Presidente da Câmara, Sr. Dr. Vitor Nogueira, director
do Museu do Som e da Imagem, Senhor Duarte Carvalho seu dinamizador. Obrigados
a quantos colaboraram nesta iniciativa meritória. Merecem-na os nossos
bombeiros e os seus corpos sociais. Merece-a a cidade que sempre acarinhou os
"bombeiros" de baixo a que os mais antigos continuam a chamar assim,
mesmo depois de o quartel ter dado um grande salto, ficando acima dos bombeiros
de cima (leia-se Cruz Verde).
A história de uma instituição idosa (mas não velha) não cabe
nas páginas de um livro, nem em espaços museológicos ou expositivos. Duarte Carvalho,
contudo, com o seu entusiasmo por tudo o que a Vila Real diz respeito e com a sua dedicação e
profissionalismo enquanto responsável por este espaço, proporciona ao nosso
olhar uma retrospectiva criteriosa e marcante em termos identitários do que foi
a Cruz Branca num passado em que sobressaíram heróis como o bombeiro Porfírio,
dirigentes qualificados, comandantes interventivos, figuras tão queridas como o
Senhor Padre Filipe, primeiro capelão da história das corporações humanitárias,
o jornalista polémico, farmacêutico e comandante Heitor Correia de Matos, o inspirado autor de
peças para os saraus e apaixonado fotógrafo, Aquiles de Almeida, para não me
alongar.
Não sei quem baptizou os bombeiros de "soldados da
paz", mas atrevo-me a discordar. Será pacifica a sua actividade? Uma
floresta a arder descontroladamente não será um teatro de guerra? Eles não usam
espingardas, mas agulhetas e machados, e cordas e capacetes e escadas. Não
vestem camuflados. Com as suas fardas de trabalho levam cor a ambientes onde
impera o negro do desespero. As chaimites deles são as ambulâncias, os carros
de socorro a fogos urbanos e florestais, os barcos das equipas de mergulho. Os
seus inimigos são chamas destruidoras de bens e de animais, de pessoas até. São
as neves do Marão e do Alvão. As águas do Corgo e do Douro. As quedas de água
de Ermelo. Os acidentes rodoviários. As doenças de idosos desprotegidos, em
aldeias recônditas, sem outro meio de transporte para tratamentos que não sejam
os veículos específicos habituados a todos os terrenos e a todos os
sofrimentos. As armas dos bombeiros são a sua disponibilidade, a sua entrega à
missão filantrópica, o seu espírito de sacrifício, a sua coragem, a sua
capacidade de secundarizar a família e a vida social perante o cumprimento de uma
obrigação-devoção. Dos bombeiros se espera que sejam tábuas de salvação. Por
isso eles são, também, enfermeiros e
parteiros e desencarceradores e abridores de portas, e mágicos que fazem
desaparecer águas de inundações. E muito, muito mais.
Os vila-realenses sabem que podem contar connosco. Como
recompensa dos serviços prestados, contentam-se as nossas bombeiras e os nossos
bombeiros com um sorriso dos socorridos, com uma palavra tão simples como
obrigado.
E é com um sentido e comovido obrigado que reiteramos a
nossa gratidão por este momento
inesquecível a arquivar num cantinho recatado da nossa memória.
M. Hercília Agarez, Vila Real, 6 de Janeiro de 2017
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