Nesse Verão, que parece ainda tão perto...
A Mãe penteou-lhe o cabelo, cuidadosamente.
Depois de vestida, calçou os sapatos novos com apenas dois
dias.
Olhou-se ao espelho e achou que estava bonita.
Naquele dia, ia tirar uma fotografia ao estúdio fotográfico
do Sr. Baía.
A mãe prometera-lhe, uma foto montada num cavalinho de
madeira.
Enquanto esperava que a Mãe se acabasse de arranjar,
andou de lá para cá, ao pé coxinho, pelo longo corredor
que atravessava a casa.
Saíram para a rua de mão dada, ela de sorriso no rosto
acenava à vizinhança.
Adorava passear pelas ruas,
passar à frente da estação, ali onde os vendedores de fruta
vendiam à sombra, melões, melancias, laranjas, fruta sempre muito doce que o
Avô costumava comprar e levar para casa.
Depois na Rua dos Camilos, numa tenda de rua, a Sra.
Celeste que vendia as melhores bananas do mundo.
Mais à frente, ao passar pelo bazar
viu na montra o bebé chorão que andava a namorar há imenso
tempo.
Quem sabe se desejasse com muita força aquele boneco, talvez
lá em casa alguém lho oferecesse?
Por fim o momento já esperado,
a casa Foto-Baía na Rua da Ferreirinha.
A Mãe montou-a no cavalo de madeira, lindo de morrer.
O Sr. Baía posicionou-lhe delicadamente o rosto para ficar
perfeita na fotografia...
Clique. Já está!
Naquele espaço de tempo,
sentiu-se uma índia dos filmes de cowboys.
Não sabia bem porquê, mas torcia sempre pelos índios,
quando os homens brancos tentavam ocupar as suas terras ou
explorar riquezas nos territórios onde eles acampavam.
Sempre que brincava aos cowboys com as outras crianças no
quintal da sua casa, gostava de ser sempre uma índia voluntariosa, no seu
cavalo negro.
De regresso, lanchou um croissant no Grande Ponto.
Durante semanas, contou às vizinhas histórias do seu
extraordinário passeio a cavalo, por terras e vales inventados.
E de um rio de oiro, onde parava para descansar e saciar a
sede do seu cavalo.
Nesse Verão,
tão longe e ao mesmo tempo tão perto.
Da menina.
E de mim.
Ana de Melo
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