Foto: josé alfredo almeida |
não sei mesmo se gostas de cerejas
ou só por teres nascido em maio
as cerejas passaram a gostar de ti
hoje, por causa das cerejas, sentei-me para escrever
e os teus olhos, sempre azuis (não sei se por causa das cerejas)
espreitavam as palavras que elegia
escolho-as tocando cada uma com dois dedos (como as cerejas)
procuro as mais doces
gosto das palavras que se possam trincar
e, sumarentas, nos enchem a língua de sabores vermelhos, quentes
gosto das que se penduram em pezinhos com folhas de cerejeira
são tão boas para um poema, em compota…
sabes, não sei mesmo se gostas de cerejas
não me lembro
e não me importo mesmo nada que não te lembres também
as cerejas, levam-nos a memória
fazem-nos esquecer
as coisas
os dias
e as notícias dos jornais
que são sempre as mesmas
Pai, eu não sei mesmo se gostas de cerejas…
Nuno Guimarães
Um poema forte , e suave , que li com gosto !!!
ResponderEliminarA fotografia , com o seu toque brilhante , doce e avermelhado !!!
Maravilhosa , e tão simples ..
Como gostei .