Documento do Arquivos dos BV da Régua |
Era o tempo em que ainda se enviavam e se recebiam telegramas - uma espécie de correspondência postal que se extinguiu ou, ao que parece, hoje ninguém já utiliza e que era um serviço público dos correios rápido e urgente - como se faz hoje como o envio de "SMS" pelo telemóvel - para mandar uma breve mensagem escrita com algumas palavras de felicitações de aniversários e de outras comemorações de datas felizes da vida de alguém ou apenas para manifestar o pesar pelo falecimento de um ente querido ou um familiar, de um amigo ou, como é este o caso deste telegrama o de um anónimo bombeiro no combate a um incêndio numa casa comercial.
Quanto ao serviço de fidelidade da transcrição da mensagem escrita que se enviava, o escritor João de Araújo Correia na sua crónica intitulada Vicissitudes Postais ( 4-3-72), do livro Nuvens Singulares, apontava algumas reservas com esta negativa observação: "Quanto a telegramas, imagino pelos que recebo como serão os que envio. É cada estropiação, cada erro de Ortografia, que fará envergonhar o signatário de letras goradas, quanto mais o de letras magras...Tempo houve em que uma pessoa, telefonava de sua casa, recebia daí a dias a cópia do seu despacho. Por aí verificava se o telegrafista era ou não analfabeto para pedir ou não pedir desculpa de bacoradas involuntárias."
Ainda na mesma crónica, mais adiante, o escritor reguense, sabedor de tão graves falhas, desabafa com os exemplos dos seus casos pessoais e anunciava as precauções que ele tomava quando queria enviar um telegrama a alguém das suas relações: "Para obviar o que me aconteceu como o Dr. António Sérgio, evito o telegrama telefonado. Mando ao Correio, em dactilografia e caixa alta, os meus telegramas. Com este sistema, tento evitar a deturpação dos textos que assino. Dizem-me que sim os bons telegrafistas, que hoje trabalham na estação da Régua. Bem hajam."
Temos em nossa mão o telegrama do escritor João de Araújo Correia, que ficou guardado no pó dos velhos arquivos da Associação dos Bombeiros da Régua, que ele enviou à sua Direcção, no ano de 1953, uns dias depois da morte de um jovem bombeiro voluntário.
Mais, uma vez, neste inédito documento se comprovam que estavam certas as desconfianças do escritor que, apesar dos seus cuidados, tinha dos primeiros telegrafistas dos correios. Neste seu telegrama que publicamos, o telegrafista também cometeu um erro ao escrever a mensagem do escritor reguense, enganou-se ao escrever o nome do falecido.Trocou-lhe o nome para Joaquim, quando o certo era o João Figueiredo. Sem margem para qualquer dúvida, esta foi mais uma falha do telegrafista que ouviu ou leu mal aquilo que lhe transmitiu o escritor.
Por certo, este caso seria mais um a acrescentar a enorme lista que desesperava os nervos e a compostura de homem delicado e cordato no trato com o seu semelhante. Mas, sobre esta falha, o mais seguro, é que João de Araújo Correia nunca a tenha conhecido ou sequer suspeitado. Caso contrário, serviria como um motivo para denegrir, com a arte da elegância e do dever zelo, um pouco mais a má imagem que deixarem de serviço público estes já moribundos telegrafistas (pelos menos daqueles que fizeram história na Estação dos CTT da Régua) e a penarem pelos pequenos e grandes males e, certamente, também pelos seus constantes erros de ortografia, nas chamas que dizem existir no Além.
Filho de um bombeiro da velha guarda, que é como quem diz dos bombeiros que em 1880 fundaram a associação na Régua, com a qual sempre se manteve ligado quer pelo seu espírito de cidadania activa quer pelas actividades ligadas com a manutenção da famosa biblioteca, o escritor João de Araújo Correia expressou num telegrama os seus sentimentos de pesar e de dor pelo "trágico falecimento", como ele salienta, de um singular cidadão que ele considerava de um "dedicado bombeiro e homem de bem", que era o João (e não o de Joaquim) Figueiredo, também conhecido simpaticamente com a alcunha de João dos Óculos, que ocorreu no grande incêndio da Casa Viúva Lopes, no longínquo e inesquecível dia 8 de Agosto de 1953.
José Alfredo Almeida
Quanto ao serviço de fidelidade da transcrição da mensagem escrita que se enviava, o escritor João de Araújo Correia na sua crónica intitulada Vicissitudes Postais ( 4-3-72), do livro Nuvens Singulares, apontava algumas reservas com esta negativa observação: "Quanto a telegramas, imagino pelos que recebo como serão os que envio. É cada estropiação, cada erro de Ortografia, que fará envergonhar o signatário de letras goradas, quanto mais o de letras magras...Tempo houve em que uma pessoa, telefonava de sua casa, recebia daí a dias a cópia do seu despacho. Por aí verificava se o telegrafista era ou não analfabeto para pedir ou não pedir desculpa de bacoradas involuntárias."
Ainda na mesma crónica, mais adiante, o escritor reguense, sabedor de tão graves falhas, desabafa com os exemplos dos seus casos pessoais e anunciava as precauções que ele tomava quando queria enviar um telegrama a alguém das suas relações: "Para obviar o que me aconteceu como o Dr. António Sérgio, evito o telegrama telefonado. Mando ao Correio, em dactilografia e caixa alta, os meus telegramas. Com este sistema, tento evitar a deturpação dos textos que assino. Dizem-me que sim os bons telegrafistas, que hoje trabalham na estação da Régua. Bem hajam."
Temos em nossa mão o telegrama do escritor João de Araújo Correia, que ficou guardado no pó dos velhos arquivos da Associação dos Bombeiros da Régua, que ele enviou à sua Direcção, no ano de 1953, uns dias depois da morte de um jovem bombeiro voluntário.
Mais, uma vez, neste inédito documento se comprovam que estavam certas as desconfianças do escritor que, apesar dos seus cuidados, tinha dos primeiros telegrafistas dos correios. Neste seu telegrama que publicamos, o telegrafista também cometeu um erro ao escrever a mensagem do escritor reguense, enganou-se ao escrever o nome do falecido.Trocou-lhe o nome para Joaquim, quando o certo era o João Figueiredo. Sem margem para qualquer dúvida, esta foi mais uma falha do telegrafista que ouviu ou leu mal aquilo que lhe transmitiu o escritor.
Por certo, este caso seria mais um a acrescentar a enorme lista que desesperava os nervos e a compostura de homem delicado e cordato no trato com o seu semelhante. Mas, sobre esta falha, o mais seguro, é que João de Araújo Correia nunca a tenha conhecido ou sequer suspeitado. Caso contrário, serviria como um motivo para denegrir, com a arte da elegância e do dever zelo, um pouco mais a má imagem que deixarem de serviço público estes já moribundos telegrafistas (pelos menos daqueles que fizeram história na Estação dos CTT da Régua) e a penarem pelos pequenos e grandes males e, certamente, também pelos seus constantes erros de ortografia, nas chamas que dizem existir no Além.
Filho de um bombeiro da velha guarda, que é como quem diz dos bombeiros que em 1880 fundaram a associação na Régua, com a qual sempre se manteve ligado quer pelo seu espírito de cidadania activa quer pelas actividades ligadas com a manutenção da famosa biblioteca, o escritor João de Araújo Correia expressou num telegrama os seus sentimentos de pesar e de dor pelo "trágico falecimento", como ele salienta, de um singular cidadão que ele considerava de um "dedicado bombeiro e homem de bem", que era o João (e não o de Joaquim) Figueiredo, também conhecido simpaticamente com a alcunha de João dos Óculos, que ocorreu no grande incêndio da Casa Viúva Lopes, no longínquo e inesquecível dia 8 de Agosto de 1953.
José Alfredo Almeida
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