Foto: josé alfredo almeida |
Até que enfim alguém se lembrou de nós, para aqui abandonadas, esquecidas, dadas ao desprezo. Por mais corpo que tenhamos botado com a idade, por mais que sirvamos de sombras e abrigos, de amparo em escorregadelas curiosas, não saímos da cepa torta.
Sofremos mudas e quedas. Vezes sem conta, desde que prantaram na parede traseira da capela, então branquinha de todo, aquela versalhada do homem comprido de nariz e de perna e, pelos vistos, de toutiço, não nos cansamos de a ler e reler, embora a saibamos de cor e salteada. E até sabemos donde raio lhe veio a façanha. A história faz parte do relambório dos entendidos acompanhantes de basbaques aqui chegados sabe-se lá donde, de chapéu por via do sol, de roupa de caminheiros, de máquinas de fotografia à antiga ou de telemóvel à moderna. Como todos os gajos falam línguas, mais pontapé, menos pontapé na gramática, a turistada fica toda a saber que o dito cujo, vindo lá de S. Martinho ao cheiro das perdizes, com amigo homem e amigo cão, ao ver na mira uma daquelas que estão no papo, pousou a espingarda e desistiu da que não chegou a ser desinfeliz, antes pelo contrário. E, rapando dum cibo de papel do fundo dum bolso, e de algum lápis sobrado da escola, a modos de dizer, rabiscou uns dizeres bonitos que lhe mataram a fome da cabeça, que com a do estômago podia ele bem (já tinha provado da merendola…)
Vai-se a ver, saiu empreitada limpa. O bom do caçador e poeta, pelos modos, chamou ao Douro “mar de mosto” (onde já se viu!), promoveu o santo a comandante da marinha, pôs-lhe os socalcos e os vinhedos na menina dos olhos, reparou no arrastar preguiçoso dos barcos e acabou por confessar que estava bêbado do cheiro a terra e a rosmaninho. E para nós, nem uma palavrinha? Está bom de ver! Estava de cu para nós, com vossa licença…
Vila Real, 15 de Junho
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