sábado, 8 de junho de 2019

Fotogenia




    Não, não é cenário de estúdio de fotógrafo num ontem em que as máquinas de captar sorrisos eram adereço de gente desafogada. Os profissionais compunham um ambiente simulador de realidade interior ou exterior, com vasos de verdes encavalitados em colunas de madeira ou idílicos recortes de paisagem farfalhuda.
    A jovem posa com pose, em postura senhoril e gestos dançarinos. De perfil perfeito, de cabelo em rolinho obtido com persistência de ferro aquecido e experiente em encaracolados femininos. Veste saia e blusa de corte correcto e discreto. É uma primavera urbana em fugidia visita ao campo onde a Primavera também sabe ser senhora.
    Cachos de uvas estão longe da vindima, apenas a indiciam e anunciam com tempo.
  Ela sabe disso, mesmo sem depenicar bago endurecido e a não fazer ougar pássaros ou raposas…. Limita-se a afago leve. Se voltar, lá para dias minguantes, será, como agora, por certo, turista, apreciando o pitoresco de uma azáfama protagonizada por laparotas e laparotos e por homens e mulheres de mãos calejadas, cada qual com a sua tarefa, com a sua jorna.
    Resta, pois, decidir quem é mais fotogénico: se os cachos promissores, respirando saúde, se a donzela graciosa que os acaricia com mãos de seda.

    
M. Hercília Agarez
Vila Real, 07 de Junho

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