quinta-feira, 27 de junho de 2019

Lembrar o amigo Nogueira Borges

M. Nogueira Borges 


Entre o sono e sonho,
Entre mim e o que em mim
É o quem eu me suponho
Corre um rio sem fim.

Fernando Pessoa



Era escritor, cronista e poeta. Era um homem livre, um idealista puro e genuíno. Era meu amigo. Partiu, serenamente, deste nosso mundo em crise económica, financeira e social, na noite de 27 de Junho de 2012, em vésperas dos festejos de S. Pedro. Para trás, sem tempo para se despedir de ninguém, deixou os montes durienses da sua infância, no alto de S. Gonçalo, onde “cresceu a ver os montes amarelecerem no Outono e a reverdecerem na Primavera; os homens a subi-los e descê-los alagados em suor e em cansaço”. Era o tempo, o seu tempo da sua meninice, em que lembra: “comiam-se azedas e amoras silvestres, figos lampos ou uvas ainda verdes roubadas nas estremas”. Aqui estava o seu “apelo da terra e o chamamento do sangue”, a marca sagrada em que a “natureza enchia-se de signos que possuíam a maravilhosa simplicidade da criação”. Também eram as marcas da sua identidade e das suas convicções. O destino levou-o até terras de África, mas se no regresso ficou a viver em Vila Nova de Gaia, manteve sempre a fidelidade às suas origens.
Conheci-o, antes de ele o saber, quando, em finais de 1980, comprei o seu primeiro livro, Não Matem a Esperança, edição de autor, ma livraria da Imprensa do Douro, onde havia à venda por um preço barato o único exemplar, perdido na poeira do tempo, uma raridade para mim que, sinceramente me pareceu estar ali à minha espera. Esse pormenor entusiasmou-me significativamente, embora deva dizer que, naquele tempo, eu nada sabia do escritor. Apenas sabia que o seu torrão natal era uma pequena aldeia perto da Régua. Mas alguma coisa eu aprendi com a leitura das 79 páginas que devorei num ápice. Tive a noção exacta que estava diante de homem que pretendia compreender-se a si e ao seu semelhante. Eu tinha diante de mim um homem idealista, de causas e utopias, com um sentido particular de justiça, empenhado na construção de um país mais justo e solidário.
Sobre aquele seu primeiro livro ficaram-me as melhores impressões do escritor de quem nunca pensei vir a ser amigo. A leitura desse livro, que guardo na minha biblioteca pessoal, fez-me pensar de uma outra maneira, com mais consciência da realidade, e no mundo pejado de injustiças e dominado por quem tem fortunas, eu que saíra de uma pequena aldeia e começava a estudar Direito na Universidade de Coimbra, que ele frequentara e onde, por circunstâncias da vida e das dificuldades económicas, não pudera acabar aquele curso.
Sei que a crítica acolheu a sua primeira criação literária com uma referência positiva e agradável para quem se iniciava como escritor. Os mais atentos viram no livro um homem revoltado com as injustiças do seu tempo, uma geração que fez a guerra colonial de África, a coragem de denunciar os males sociais, ao mesmo tempo que, pelas reminiscências da sua infância, dava voz ao homem humilde e pobre da rua e da aldeia.
Vale a pena recordar o consagrado escritor João de Araújo Correia que comparou o seu livro a um colar de pérolas em prosa. E o escritor de nome feito e grande na literatura nacional Fernando Namora foi mais longe ao definir aquela obra como a de um homem com uma visão lúcida e atormentada pelo viver de hoje.
Conheci, anos mais tarde, o homem e o amigo. Conheci-lhe o rosto e a expressão luminosa do seu olhar, a ternura e a elegância dos seus gestos e o tamanho e a forma dos seus pensamentos, a grandeza dos sentimentos. Sentados numa mesa da Casa Teresa, em Matosinhos, a comer a boa sardinha assada, não precisámos de muito tempo para gostar um do outro, de dizer olhos nos olhos o que éramos, o que pensávamos das leis e do ideal de justiça, como algo que pudesse guiar as nossas decisões práticas e melhorar as nossas vidas. Se até àquele primeiro encontro éramos vizinhos na pequenez do mapa de território da nossa região, ficávamos mais próximos pelas experiências humanas, a humildade de procurar a luz para ver nas sombras. Desse primeiro momento retenho tudo o que descobrimos de comum e de diferente e, a partir daí, facilitou a nossa jornada por caminhos abertos a mais afectos. Partilhámos as nossas paixões e as íntimas memórias que nos unem ao Douro, o das paisagens arquitectadas pelo trabalho árduo do homem, os socalcos que produzem o vinho fino bebido em todo Mundo e as proezas titânicas de quem ficou para cultivar a vinha e, assim, é capaz de sobreviver aos preços de miséria em cada nova vindima.
Confesso que esta amizade com o Nogueira Borges ficou assinalada pelo entusiasmo que me tem apaixonado pelas memórias dos bombeiros da Régua. Aquilo que era a matéria do meu estudo e do meu esforço estimulou-o a aprender comigo exemplos de dedicação, altruísmo e solidariedade a que, nos tempos actuais, estamos habituados a dar pouco valor. Mas ele percebeu que o mais importante que eu investigava eram os homens de rosto, de outros tempos, mais generosos e solidários e que, como nós, procuravam fazer o bem nesses tempos já então de egoísmo.
Mas é melhor explicar isto para, se calhar, se entender a importância que ele deu ao meu trabalho. Quando pensei escrever um livro com as memórias dos bombeiros da Régua – e que escrevi e publiquei em 2011 –, ele apoiou-me e apresentou-me à Elvira e ao Vítor, os donos da Editora Mosaico de Palavras, de Rio Tinto. Tinha acabado de publicar o último livro. A nossa amizade tinha encontrado um terreno fértil para se expandir e ele me mostrar cumplicidade e um inexcedível humanismo. Esse seu sorriso e trato afável, parece que estou a vê-los aqui ao meu lado, fixando-me nos seus olhos.
Sobre os Bombeiros Portugueses, aqueles que ele considera os esquecidos da História, fez questão de lhes evidenciar o seu valor e a sua importância, sublinhando o espírito único da sua humanitária missão: “Muitos honestos e simples tiveram, têm e terão os Bombeiros da nossa e de todas as terras. Homens que por um pedaço de nada arriscam a orfandade e a viuvez de quem fica. Sujeitos à traição numa qualquer serra, numa curva de estrada, num morro inacessível, num cavado sem fuga, numa casa em labaredas, numa dedicação de fraternidade. Pessoas destas não gananciam milhões, são felizes na ajuda, não vêm em nenhuma lista da FORBES, não precisam de fingir solidariedades – ELES SÃO A VERDADEIRA HUMANIDADE. Não fogem perante a pobreza – combatem-na; não se desculpam com a escassez de meios – suplantam-na; não se encolhem no perigo – dominam-no; não se esquecem dos que morrem – choram-nos; não se assustam perante o cordão umbilical – erguem a vida; não se importam do esquecimento – deixam escrito o exemplo.”
Guardo o seu livro Lagar da Memória que me enviou pelo correio, manuscrito numa das primeiras páginas com uma dedicatória elogiosa e, de certo modo, imerecida, mas que me honra e me deixa grato para sempre. Quando o Nogueira Borges gostava dos seus amigos, não se poupava em manifestar as suas atenções de estima, afectos e cordialidade.
Sobre o seu último livro, não lhe disse o que pensava e, um dia, fez questão de mo dizer. De forma apressada, reconheço agora, fiz um comentário sentido, escrito numa mensagem, que me disse o emocionou e o fez chorar de alegria. Gostava de partilhar o que escrevi, mas confesso que essa mensagem acabou por desaparecer no meu telemóvel, apagada por outras, mais recentes, que lhe disputavam o espaço.
Lembro-me que, há um ano, fui visitá-lo à Feira do Livro de S. Marta de Penaguião, onde se encontrava a dar a conhecer o seu livro, à espera de um novo leitor que comprasse e lesse o que ele ainda tinha para dizer de nós. Levei comigo o meu amigo e colega de profissão o Dr. Martins de Freitas, que queria comprar o Lagar da Memória mas que, apesar de seu leitor, não o conhecia pessoalmente. Um momento de que ele, mais tarde, gostou e me confidenciou por escrito assim: “Meu AMIGO. Não vou esquecer a sua presença ontem em Santa Marta. ACREDITE. Só lhe digo: OBRIGADO. Ainda para mais COM QUEM FOI”. Aí nasceu uma nova amizade com o Dr. Martins Freitas. Não revelarei nenhuma inconfidência ao dizer que a mesma foi intensa: partilhavam mensagens pelo correio electrónico, momentos irrepetíveis de troca de conhecimentos sobre a vida, as artes, o Douro, a vida difícil dos pequenos lavradores e a literatura dos imortais escritores João e Camilo de Araújo Correia.
A meu pedido, sem qualquer subterfúgio, escreveu duas primorosas crónicas sobre o mundo mágico dos Bombeiros da Régua. No fundo das memórias do tempo de menino, quando vinha à vila Régua, na companhia da família, encontrou na frente do seu olhar o bonito e imponente quartel, desenhado pelo gosto da melhor arquitectura e construído em pedras de granito e de xisto, e retratou figurinhas exemplares que deixaram boas recordações. Mais uma vez, na sua mestria literária, lembrou os primeiros incêndios que viu, o quarteleiro Senhor Zé Pinto, que o emocionou ao revê-lo numa foto antiga. Este homem simples, que vestia fato-macaco, tomava conta das viaturas e limpava as instalações, pertencia àquela raça de “seres que são parte da iconografia de uma sociedade e de uma geração”. Emocionado, trouxe, com retoques de filigrana, lá da Eternidade, o bombeiro João dos Óculos, “o tipografo que ganhava a vida a desenhar palavras no chumbo tipográfico”, morto no ano longínquo de cinquenta três, com apenas 33 anos, no incêndio da Casa Viúva Lopes.
Nessa viagem sentimental ao seu passado, foi buscar alguém que se tornou muito especial na sua vida, uma das “suas mais belas amizades”, a que o relacionou com o jornalista Jaime Ferraz Gabão, que conhecera em Moçambique, mais concretamente em Porto Amélia, no ano de sessenta e oito.
Não posso esconder a minha gratidão pelas palavras que escreveu numa crónica para fazer uma análise crítica muito bondosa ao meu livro, ao meu carácter e, em grande parte, à minha dedicação em nome de uma causa humanitária em que me orgulho de dar continuação ao trabalho de homens exemplares pela sua atitude cívica e ética. Se eu o consegui emocionar com a leitura de algumas passagens do humilde trabalho, ele emocionou-me mais e fez-me sentir que a minha persistência na busca de figuras exemplares dos bombeiros não tinha sido em vão. Aprendi com ele que, depois da vida, e isso não o esquecerei, o que resta dos mais simples, aqueles que são abandonados ao esquecimento, como o teu carreiro Peche, do teu conto que me levou até as lágrimas, é “que a grande riqueza das pessoas é a boa recordação que deixam”.
Gostava de escrever crónicas para os jornais. Fê-lo no Notícias do Douro e, agora esporadicamente, no Arrais. Mantinha a mesma coragem e lucidez e a desilusão de assistir à degradação do Estado Social, da ideia de ter de viver com menos direitos, menos segurança, menos assistência na saúde, nessa enorme treta vendida por políticos sem passado nem memória. Gostava de invocar as suas velhas amizades, emocionava-se com os pequenos nadas, revoltava-se com os sacrifícios das gentes humildes do seu pátrio Douro. Pediu-me para publicar no Arrais (ver pág. da edição de 31 de Maio de 2012), a crónica “Padre e Escritor” – aquela que foi a última – dedicada ao Padre Joaquim Taveira da Fonseca, também poeta, um amigo dos tempos dos bancos da escola primária. Quis fazer uma surpresa ao amigo Quim, como o tratava, para lhe falar de literatura, filosofia, destinos, Deus e seus desígnios, fé, amor, a aldeia da nascença e de descendências familiares convenientes. Tudo aquilo para fazer a recensão crítica, saudável e benigna ao livro No Silêncio da Palavra, obra literária daquele seu amigo, que descreveu como “a revelação do cruzamento com os outros, mormente com aqueles com quem lidamos todos os dias; a procura da misericórdia da vida, esse espaço de tempo limitado pela nossa finitude”.

Creio que, durante estes dois últimos anos, o meu amigo Nogueira Borges encontrou em mim um companheiro para conversar de coisas incomuns, esquecidas no crepúsculo dos tempos, para mostrar a sua indignação com os tais “mercados” do dinheiro e a insensibilidade escandalosa de quem nos governa. Sempre numa observação límpida, mas corajosa, denunciava os grandes males do nosso presente. Cito-o, como bom exemplo, através do trecho de uma sua lúcida e espantosa crónica: “Vivemos um tempo de desgosto patriótico, de míngua financeira e moral. Há quem brade aí pela reencarnação salazarenta de chicote, pés descalços e uma malga de sopa; quem subscreva abaixo-assinados pelo julgamento, nos pretórios nacionais, dos políticos de ontem; os que defendem um castigador emagrecer fiduciário para – num brasileirismo que a indigência do acordo ortográfico já não faz corar – o povo, esse malandro perdulário, cair na real.”
Esta sua militância cívica e activa contrastava com a necessidade urgente de recolher num livro alguns anos de vida: Chegara o seu tempo de recordar, que, como amar, é dos verbos mais sérios da vida”. Chegara, na verdade, o seu tempo, que queria ocupar a “encher as folhas virgens dos seus cadernos, ditar-lhes memórias e hojes…”.

Foram esses percursos da sua vida e dos mundos que percorreu e, outros, sonhou que reuniu no livro Lagar da Memória, em 2011, numa edição da Mosaico de Palavras, ao longo de duzentas e cinquenta páginas “escolhidas na minha vindima literária e esmagadas em pousas de luar. O seu mosto é transparente e genuíno, verdadeiro e honrado”.
Quem quiser pode aí encontrar o homem, o poeta intimista. Nessa obra está o meu amigo em corpo e alma. Lá encontram (quase) todo o seu Douro – aquele que intensamente viveu, conheceu e amou – que imortalizou como se fosse um historiador sem história. Lá encontram, no fim de uma jorna, o carreiro Peche, em carne e osso, que foi sepultado e esquecido numa campa do cemitério de Cambres, os lavradores que vendem o seu vinho a preços espezinhados pelas Casas Exportadoras, as famílias que disputam a Quinta do Pinheiro Manso, sem o benefício de letra A, os chauffeurs da praças de táxis, os miradouros, as festas populares, a Rua dos Camilos, na Régua, a artéria do comércio tradicional da Capital Vinhateira, os barcos rabelos a sulcarem as correntes do rio de mau navegar, as criadas (a Alice) que vai servir no Porto parta fugir à miséria, os lugares de uma infância feliz a correr os caminhos que ligam a Corredoura, a Senhora da Graça, os montes de S. Pedro e de S. Gonçalo, as chegadas das rogas para as Vindimas que “em Setembro despertavam da moleza de Agosto”, o trabalho das pousas, o ritual do trabalho humano quando as uvas chegam ao lagar, as procissões de aldeolas como a de Guimares e os cheiros, a luz de Verão, o lume da lareira acesa no Inverno, o nascer do dia e novos amanhãs com esperança no futuro.
Depois, se ainda tiver tempo, lá está o estudo antes de Coimbra, o militar que fez à força a guerra colonial em África e o cidadão que trabalhou no banco para ganhar o seu sustento… até nos deixar aqui sozinhos.
O meu amigo Nogueira Borges era um homem superior, com uma dimensão ética da vida. Morreu como viveu, isto é, com grandeza: o destino dos homens simples como ele era: “Acreditem-me ou não, o que escrevi SINTO-O. Sabes, a vida é feita por NÓS, ‘OS SIMPLES’, OS QUE ANDAM AQUI COM UMA LUZ NO CORAÇÃO. SÓ TEMOS QUE FAZER UMA ‘COISA’: AGRADECER A QUEM NOS DEU ESSA FELICIDADE!”.
No sublime poema que intitulou de Última Vontade (na pág. 248 do livro Lagar da Memória) fez, sem invocar a letra da lei que aprendera no pouco tempo de Coimbra, o seu derradeiro testamento, antecipando aí a visão da sua morte física, que sabe ser inevitável, sem dramatismo nem ressentimento, para dizer que devem lembrar na sua ausência, assim:


“Quando eu morrer,
As andorinhas farão ninhos
No beiral da casa onde nasci,
Cantando de mansinho
Para que não me interrompam o fim.
Apanhem uma que seja dócil e bela,
Prendam-na às minhas mãos
E deixem-me ir assim com ela”


O que enternece e comove nestes versos não é a fragilidade e a brevidade da existência humana, mas as palavras de um adeus sem lágrimas, sem ressentimentos, mágoas nem rancores, envoltas no ambiente campestre da sua infância, a lembrar a casa onde nasceu. O que viveu, sonhou e amou está ali, feito num breve balanço da sua vida. Em poucas palavras disse tudo de si: o seu mundo em criança e em adulto.
Como epitáfio deixou escrito outro poema para ser colocado na sepultura, ao lado de uma cruz, velas a arder e flores:


“Nasceu sem saber porquê;
Viveu sem que o estendessem
Morrendo sabendo para quê:
Para que na ausência o lembrassem”


Na verdade, é com esta modéstia, de sentimento verdadeiramente humanista, que quer que o recordem, para quem sabia que a sua morte não era fim. Algum tempo antes tinha escrito algo nesse sentido, afirmando que a “a vida é passageira porque a alma é terna”.


“Morrer não é o fim
E quem me diz a mim
Que a minha vida, afinal
Não se renovará num caminho
De amor e carinho”.


Assim, andará, por certo, de luz no coração a voar com aquela andorinha saída do seu poema, sob os Céus do Douro, rio acima e entre os vinhedos, na esperança de uma grande novidade na próxima vindima. Como escreveu na crónica Lembrança de Natal (na pág. 218 do livro Lagar da Memória): “O Douro, esse, não morre, continua a correr, leva nostalgias, sonhos e destroços”.
Com ele (e com a sua andorinha) vai uma parte de mim...
Disseram que estás sepultado num jazigo de família no cemitério de Mafamude. Não sei se se enganaram ou se, distraídos, não te viram passar com a andorinha. Também não sei por que caminhos onde andarás, mas até estou menos triste…. Porque, onde estiveres, talvez passe um rio Douro, como o nosso, onde navegam os velhos barcos rabelos, comandados pelo destemido mestre arrais à proa, carregados com pipas de vinho fin, para saborear no silêncio das tardes de pôr-do-sol de Porto Amélia, na sua saudosa África portuguesa. 

Tenho a certeza que continuas connosco.


se houver uma porta de passagem
nesta vida
que seja o teu abraço
onde o carinho se protege
e abre as suas asas

Daniel Gonçalves



José Alfredo Almeida

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