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Foto:josé alfredo almeida |
Chegaram sem se terem feito anunciar. Não
tinham a quem, nestas paragens inóspitas onde se dizia que as cerejas se comiam
ao borralho. Tempos idos! Ninguém, humano ou animal voador, a esperá-los. Casal
unido (tomaram muitos!), sobrevoaram céus de outros ventos, de outros sóis, de
outras aves. Tentaram campanários de alturas cristãs. Nenhum lhes agradou.
Rumaram a norte, de patas a pedir poiso, de fêmea a pedir berço para filhos a
vir.
Aterraram numa cidade fidalga, ciente dos
seus pergaminhos, mas nem por isso menos acolhedora. Em Trás-os-Montes,
adivinhavam, encontrariam a proverbial franqueza trasmontana. Tiveram sorte.
Saiu-lhes na rifa uma palmeira de ramos amputados, sem sombra a oferecer.
Fizeram-na renascer, não das cinzas, como Fénix, mas da inutilidade. Dir-se-á,
hoje em dia, que a espécie arbórea, incomum em ares sem aquecimento central,
foi reciclada. Alguém teve a premonição de que lhe estava reservado novo
destino: o de ser o traço de união de flora e fauna tropicais em terras ditas
frias.
Mais ainda e não despiciendo. Aqueles
hóspedes, lá na altura, puseram no ar as cabeças de vila-realenses e de facebookistas… No ar, no sentido literal, já que no figurado
andam as de muita gente, em muita parte.
Não se justificando, há uns anos a esta
parte, ver os aviões (pequenos, mas honrados!) que uma centralidade lisboeta
concedeu, generosamente, a uma interioridade transmontana onde também vivem
deputados e executivos, sendo os arraiais de fogo de artifício apenas
nocturnos, erguem-se agora os olhos para o ninho das cegonhas. Ali mesmo, em
local privilegiado, qual sentinela de um Jardim da Carreira aperaltado,
florido, mas quase deserto desde o tempo em que era sede de tertúlias de
reformados, as “lâmpadas fundidas”, como eram referidos em meio fértil para
alcunhas, mais individuais do que colectivas.
Há quem siga, sem respeito pela privacidade
conjugal, o quotidiano do cegonho e de sua legítima esposa. Primeiro,
filmaram-lhes o ninho, paternalmente, maternalmente, preparado, a tempo de
acolher ovos com vidinhas dentro. Postos estes, posto isto, seguem o rasto do
chefe de família (que o foi depressa) em passeio interesseiro pelo Parque
Corgo, enquanto a zeladora mãe aguarda, a bom recato, a refeição do dia e a
pequenada, quadrigémea, também com apetite, saltarica, joga às escondidas.
Com este atractivo, talvez não fosse má
ideia explorar, turisticamente, este património outorgado a Vila Real por uma
rainha chamada natureza e convencer as agências de viagens a acrescentarem, nos
seus roteiros, esta visita à do palácio de Mateus…
M. Hercília Agarez
Vila Real,
16 de Maio de 2019
Foto: José Sousa
Foto: José Sousa
EXCELENTE!
ResponderEliminarMaravilhosa Natureza.
Simplesmente ...ENCANTADOR ..!!!
ResponderEliminar...Qual olhar ..atento...
não possa encantar.se ???
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