quarta-feira, 5 de junho de 2019

Rio majestoso

Foto:josé alfredo almeida


"O rio Douro
O rio Douro não teve cantores.
Teve-os o Mondego e o Tejo também.
Mas, para além das cristas do Marão, em vez do alaúde e da guitarra havia o repique dos sinos ou o seu dobrar espaçado.
Havia o tiro certeiro dos caçadores de perdiz, lá pelas bandas da Muxagata e do Cachão da Valeira.
E o clarim das guerrilhas ouvia-se através da poeira de neve que cobria os barrancos de Sabroso.
O rio Douro ficou banido da lírica portuguesa com a sua catadura feroz pouco própria para animar os gorjeios dos bernardins, que são sempre lamurientos e que à beira de água lavam os pés e os pecados.
E no entanto, trata-se de um rio majestoso como não há outro." 

Agustina Bessa-Luís

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