Já não estão cheias de uvas as cestas das mulheres. Servem, apenas, de meio de transporte aos fataixos de trabalho, saias e blusas.
Acabada a faina vindimeira, as rogas, perfiladas no chão ou empoleiradas em muros inseguros, estão prontas para o regresso aos casinhotos das suas aldeias não vinhateiras onde substituem a tesoura de poda pela enxada, e demais alfaias agrícolas. Todos têm a sua quota parte no amanho da pobre terra que lhes garante uma humilde subsistência.
Aí estão eles: rapazes de boné, homens de chapéu amolgado, mulheres de lenço a tapar a cabeça de jeito ao seu jeito ou segundo a tradição familiar.
Regiamente sentado no trono da tirania, o patrão e os seus adjuvantes têm em cima da mesa do mando papéis onde constam os dias de trabalho de cada escravo. De acordo com esses dados, sem erro, entregam, sovinamente, a jorna mirrada, paga sem direito a objecções. Paga de dias e dias de trabalho suado, de corpos máquinas, alimentados como quem dá esmola a um pobre, momentos de pausa que não dão para endireitar as costas.
Esta fotografia pode ser vista como um painel de etnografia duriense: o fim de uma epopeia cujos protagonistas, vindimadores e fazedores de vinho, não têm um Camões que diga: "Aqueles que por obras valorosas / Se vão da lei da Morte libertando". Mas o vinho, esse, sobretudo o fino, viaja por todo esse mundo há muito navegado.
Vila Real, 3 de Novembro
M. Hercília Agarez
Maravilhoso espaço, Senhor José!
ResponderEliminarHá que homenageá-lo com poesia,
Com afeto, com amor, com alegria,
Por ver como a vindima era e é
Produzir vinho, colhendo do pé
A uva sacrossanta desde a via
Da colheita ao fim da tal porfia
Feita com amor e com o fervor da fé.
Brindamos pois amigo, com uma taça
Do vinho português e demos graça
Por esse brinde terno à saúde
De toda a vida breve que se passa
E mais um trago antes da mordaça
Que o vinho nos alegra e nos ilude.
Grande abraço. Laerte.
Uma fotografia interpretada, não só no que
ResponderEliminarvisualmente representa, mas faz ainda um
relato das vidas, que fizeram do Douro uma
riqueza nacional. Excelente!