Foto : josé alfredo almeida |
Aqui a passadeira não é vermelha. Não estamos a ver pisá-la o
luxo da sétima arte em dia de festival. Isso é lá na côte das estrelas, em Cannes. Aqui a festa é a da natureza. Verde.
Com as suas surpresas e as suas bizarrias. É a exaltação da policromia. Aqui as
jóias são as folhas das vinhas. As actrizes são as videiras vestidas de
garridice vegetal tecida no tear das cepas. Sem assinatura de autor, sem griffe.
O amarelo aparta-se do verde. Rivalidade de castas.
Pergaminhos. Parecem alcatifas, as
vinhas. Aquece-as um sol outoniço, protector. Goza, enquanto pode, a sua
caminhada cada vez mais periclitante. Ao acordar, estremece ao ver que algumas
folhas não resistiram à brisa nocturna.
Mais verde. Um caminho com dupla função: separar vinhedos e
encurtar caminho em direcção ao rio, ali bem perto. Parece ilusão de óptica,
manipulação, osmose. Caminho verde. Atapetado de ervas daninhas. Verdes.
Passadeira para passantes humildes, estrelas sem estrelas, sem condecorações,
sem troféus. Passadeira verde. Verde. Verde
que te quiero verde.
* Título de um poema de Federico Garcia Lorca
Vila Real, 29 de Outubro de 2016.
M. Hercília Agarez
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