Uma vida entre linhas e botões. Entre molas
e colchetes. Entre chitas e cambraias. E fitas de todas as cores e larguras.
Rendas e guipures. Espiguilhas e
nastros. Fazendas para fatos e vestidos. Entretelas e chumaços. Agulhas. Para
coser e tricotar e crochetar. Miudezas incontáveis. Tudo para toda a costura.
Gavetas com lotação esgotada. Prateleiras heróicas resistem ao peso. A ordem na
desordem. No chão nascem os sem lugar. Mais sorte têm os rolos a servir de
arranjo em cima do balcão. Diminui o espaço para os passos do vendedor.
Deixá-lo! Que os clientes não saiam sem os precisos. Alfaiates, modistas e
simples costureiras. Senhoras à moda antiga. O croché em vez do café...
Resistência. Resiliência (não sei se se
escreve assim a palavra recentemente introduzida na linguagem dos políticos porque não vem no dicionário). Um
desafio a prontos-a-vestir de chineses e de feiras vendidos ao preço da uva
mijona.
Uma vida. Longa. Um amor ao ofício. A
preservação de um passado que a fortuna não
deixará durar muito.
Vila Real, 26 de Outubro de 2016
M. Hercília Agarez
Delicioso... escrita puéril mas tão precisa.
ResponderEliminarA foto... genuína... é a tua assinatura José Alfredo...
.Como as simplicidades das palavras --
ResponderEliminarpode ser tão bonita !!!
A fotografia tão especial...!!