Foto: josé alfredo almeida |
Passo ao de leve os dedos pelo portão de ferro, sem cor
definida, velho enferrujado.
Está tudo ao abandono...A quinta a debruçar-se sobre o rio,
silenciosa e seca, como esta tarde de Agosto, em que o calor tal como
antigamente, parece labaredas a queimarem-me o rosto.
Não é difícil forçar o
portão e eu entro.
Devagar, o coração a disparar de emoção.
Lentamente , tal como há tantos anos atrás, retomo o caminho
que me levará à casa grande.
Wagner, sim a música era de Wagner,
a
casa estava toda iluminada, ruído de copos, de loiça, conversas animadas,
outras mais filosóficas, mais sérias, mais introspectivas.
Era a altura das férias.
Faltava pouco tempo para as vindimas, a quinta encher-se-ia novamente de
pessoas, de grande agitação, de melodias frescas e populares acompanhadas pelo
som do acordeão a condizerem com a ocasião.
Eu era de fora, de outra cidade, fui levada por amigos de
amigos, num sábado, em
que
estava à procura de nada.
Volto ao portão da entrada, à procura do que me levou hoje
ali.
Naquela noite, o portão estava aberto de par em par, o ferro
trabalhado a reluzir sob o lampião amarelo da entrada.
O que é o tempo? Podemos deixar de respirar?
Ali estava ele.
A
rir, a falar com outras pessoas.
Podemos conhecer alguém que nunca vimos?
Em
que vida foi? Em que tempo, em que espaço?
E a música ao longe... Tristão e Isolda?
Vivemos uma vida longa, no espaço de dias.
Não
nos despedimos. Sabíamos que não era necessário.
Passo ao de leve, os dedos sobre o velho portão, fecho-o
atrás de mim,
sem antes, olhar o rio, naquele momento no auge da
tarde e do calor.
Tal como o rio prossigo o meu caminho, mais uma vez.
Há viagens que têm que ser feitas.
Sítios
onde precisamos voltar.
Mesmo que tudo o que lá se tenha passado, possa parecer um
sonho.
Ana de Melo
Uma história "alegre, feliz "..
ResponderEliminaré encantadora a forma como autora , nos" abre o portão " ,
do seu coração ..
Sonhar , sonhar ...com amor .porque não ?..
E voltar aonde fomos felizes !!!
Gostei muito , de tudo .........