Cdte Lourenço de Almeida Pinto Medeiros |
Faleceu a 12 do corrente, nos
subúrbios desta vila, um homem delicado. Melhor dizendo, faleceu a 12 do
corrente, nos subúrbios desta vila, um homem que exerceu, durante mais de
oitenta anos, a delicada arte de ser delicado.
Parece que o exercício dessa função
espiritual o conservou moço até da cova. Tinha oitenta anos como se tivesse
apenas cinquenta, mas, direitos e elegantes como guias de salgueiro.
Toda a gente sabe ou adivinha que o
nosso morto é o Lourenço de Almeida Pinto Medeiros, o Lourencinho, como lhe
chamávamos todos, consoante o uso do Norte. O inho, entre nós, não é mau signo de equívoca personalidade. É
tributo que se paga, em moeda de afectivo respeito, a homem que o mereça.
O Lourencinho, reguense nato,
inteligência circunscrita a ideias intramuros, coração transbordante de paixões
locais, Bombeiros e festas do Socorro, foi excepção na Régua devido à sua
ingénita delicadeza.
Por esse motivo, além de outros, faz
imensa falta a este burgo comercial, tão atarefado, que não considerou ainda
que a cortesia é sinal de civilização.
Terra que não saiba cumprimentar, que
não perdoe pequenas fraquezas a naturais e estranhos, que não dissolva
mesquinhos ressentimentos, não vença a iníqua antipatia que lhe inspiram os
melhores filhos, é terra que não passa de esboço colonial de provável povoação.
É tempo de a Régua se orgulhar de
cidadãos polidos como o Lourencinho. Ele e poucos mais, que felizmente por aí
ficaram, uns ricamente vestidos, uns pobremente vestidos, provam que a Régua
não é tão árida de cortesias como a pintam os seus hóspedes mais sensíveis. O
Lourencinho foi fidalgo de natureza, que é a maneira menos falível de ser
fidalgo.
Dezembro de 1959
João de Araújo Correia
Sem comentários:
Enviar um comentário