O Mestre de Nós Todos
-Antologia de João de Araújo Correia
(Organização de José Braga-Amaral)
Autor: João de Araújo Correia
Editora: Campo das Letras, 1999
"Mas quem é João de Araújo Correia?- perguntará o leitor, que conhece toda a gente que, todos os dias, os meios de comunicação acabam por tornar familiares. A resposta a dará, melhor que ninguém, nem o próprio João de Araújo Correia, com os contos e crónicas aqui seleccionados.Não serão, porém, talvez inúteis algumas nótulas que ajudem a situar o escritor no seu tempo e no seu mundo.
João de Araújo Correia nasceu em Canelas do Douro, no primeiro dia do último ano do século XX, e faleceu no Peso da Régua, em 31 de Dezembro de 1985. Repousa na sua terra natal. Exceptuando o período da infância e dos estudos secundários e universitários no Porto (estes últimos interrompidos por doença, que o trouxe de volta à casa paterna para convalescer), toda a vida de João de Araújo Correia tem por cenário a Régua, onde exerceu clínica e escreveu a sua obra.
(...)
Escrevendo a "horas mortas", quando se fazia o silêncio na casa e na rua, e os doentes lhe concediam alguma trégua, João de Araújo Correia, se lhe sobrava algum tempo da profissão e da vocação, permitia-se alguma viagem, mas eram jornadas ao pé da porta, rápidas visitas a vilas e aldeias, com os seus tipos humanos e as suas tradições, ou uma rápida visita ao Porto da sua mocidade estudantil, com as suas reminiscências literárias, as suas livrarias e os seus alfarrabistas, onde encontrava sempre uma novidade ou um livro esquecido. Em hora mais feriada, alargava o passo até à vizinha Espanha, acompanhado da sombra de Cervantes e Unamuno. Mas logo voltava ao seu eremitério - assim chamava a sua casa para sugerir um lugar afastado dos grandes centros. Esse era o seu mundo e o seu fado, e no silêncio recatado podia recolher-se a confidência das suas personagens e ouvir, mais nítidos, os " ecos do país". Se os pudesse ouvir hoje, que lhe diriam eles? Que o país, distraído, esquece quem devia trazer à memória colectiva. Se não fosse a boa vontade de algumas pessoas e instituições, e iniciativas dispersas, quem lembraria o centenário de João de Araújo Correia.
Nessas iniciativas tem papel preponderante esta antologia, porque não se esgota nos limites temporais de uma efeméride.Os textos de João de Araújo Correia, melhor do que ninguém, falam por ele e podem romper o silêncio, o injusto silêncio, que tem ocultado um escritor genuíno como o vinho fino da sua região.
João Bigotte Chorão
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