Memórias de infância de uma duriense
Autora: Olga Pinto Barbosa
Impressão: Minerva Transmontana, Tipografia Lda - Vila Real,2007
"Lembro-me muito bem de tudo isto que vou passar a contar.
Meu avô, de nome Antero Pinto Magusto, e minha avó, de nome Glória Ferreira Rola, tiveram quatro filhos. A primeira filha foi minha mãe, de nome Rosa.Depois, tiveram meu tio, de nome António. Depois, minha tia, de nome Maria José e, por último, minha tia, de nome Ana.
Minha mãe contou-me que eu nasci na rua do Eirô, no Peso da Régua, no dia 14 de Agosto (1936).Precisamente no dia da Feira Franca aquando do começo das Festas de Nossa Senhora do Socorro. Minha mãe contava que os gigantones, os cabeçudos, os homens dos bombos e o estalar dos foguetes rondavam a sua porta, e ela com dores de parto. Eu sou filha de pai incógnito, isto é, meu pai não me perfilhou. Mas soube o dia em que nasci. Tanto assim, que pediu a minha mãe que, se eu fosse menina, me pusesse o nome de Olga; ou, se fosse rapaz, que me pusesse o de Victor,que era seu nome.
(...)
Quando eu tinha dois anos de idade veio-me uma febre muito alta. A minha boca deu toda a pele, como se fosse uma batata cozida. Então, minha mãe ficou muito aflita, porque pensava que me ia perder. Como era pobre, não tinha dinheiro para me levar a um médico: não hesitou, embrulhou-me num lençol e levou-me ao consultório do irmão de meu pai, que era médico.Quando ele viu minha mãe entrar comigo nos braços, disse-lhe para me deitar na marquesa. Desembrulhou-me do lençol que minha mãe me pusera e observou-me. Ao mesmo tempo que exclamava: "Minha menina, que estão linda! É uma pena deixar-te morrer!"Sim, ele sabia que eu era filha de seu irmão. Talvez a força do sangue lhe tocasse em suas veias. Então, aplicou-me uma injecção na barriga e disse para minha mãe que eu tinha uma febre intestinal e que, se eu não reagisse, então teríamos menina, mas, se eu não reagisse, então que não contasse comigo. Disse mais, para minha mãe, que na semana anterior uma menina da minha idade, filha do Senhor Jaiminho Guedes, tinha morrido vitimada pela mesma febre.
(...)
Nessa época, meu pai estivera preso pela PIDE nas prisões da rua do Heroísmo, no Porto. A notícia foi-nos revelada pela minha família que vivia na Régua. Quem o ajudou a libertar da extinta PIDE foi o seu irmão, ilusttre médico, Sr. Dr. João de Araújo Correia, pessoa muito conhecida e estimadas pelas pessoas da cidade do Peso da Régua, pela sua boa medicina, e não só! Também é muito conhecido pelas suas obras literárias e pelos bons méritos e homem e de cavalheiro. Tem em sua memória, o seu honroso busto erguido numa avenida da cidade do Peso da Régua. Tal facto me enche de orgulho pois é grande a gratidão que lhe tenho, por me ter salvo da morte em criança! Rendo-lhe a minha homenagem."
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