As
minhas recordações da infância estão povoadas com os primeiros bombeiros que vi
a combater um fogo que ameaçou destruir uma velha casa nas Caldas do Moledo,
lugar onde nasci e dei os meus primeiros passos. Se não fossem esses corajosos
bombeiros, as chamas teriam reduzido a cinzas a vida de uma família pobre e os
seus míseros haveres. Nunca soube o nome dos bombeiros que apagaram esse fogo,
mas eles ficaram-me retidos nas malhas da memória como heróis.
Mal
sabia eu que, muitos anos depois deste fogo, as voltas do destino me pregavam
uma partida e faziam-me ser um bombeiro sem farda nem capacete, pois que fui
convidado para assumir a Direcção da Associação, isto é, tomar conta das
contas, dos papéis, das mil e uma burocracias que não os podem ocupar para
estarem sempre prontos a responder ao toque da sirene.
Tive
fortes razões para recusar o convite, mas o apelo das minhas memórias de um
fogo fizeram com que aceitasse, com honra, um cargo directivo para o qual não
sabia se estava preparado, nem se teria competência para estar ao lado de
homens que eu admirava e eram os meus heróis. O certo é que tive de aprender
com os bombeiros no activo e, no meio de muitas tormentas, deixei-me ficar na
companhia deles. Quando olho para o calendário do tempo, vejo que já passaram
cerca de quinze anos a dirigir os nossos bombeiros. Não são muitos os anos a
que me dedico com zelo à instituição se os comparar com a sua longevidade já
mais que centenária. Confesso que me limitei a dar um pequeno e humilde
contributo para a tornar melhor, como fizeram todos os meus antepassados.
Aprendi com os bombeiros lições de sacrifício e solidariedade e actos de muita
humanidade.
Por
isso, muitas vezes me recordo de uns versos do Comandante Camilo Guedes Castelo Branco
impressos numa fotografia eterna que me não deixa esquecer os meus bombeiros,
heróis sem nome nem rosto que continuam a apagar o fogo da minha memória, lá
nas ruínas do velho Moledo, cumprindo o espírito da sua missão: VIDA POR VIDA.
José Alfredo Almeida
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