quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Memórias Vivas




Nota de apresentação

                                  "A verdadeira generosidade para com o futuro consiste em dar tudo ao presente"

                                     Albert Camus

Como presidente da Direcção da Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários do Peso da Régua há mais de quinze anos e como principal responsável pela organização e edição desta antologia, compete-me a tarefa de a apresentar aos leitores. Quero dizer-vos que é um projecto pessoal que assenta numa ideia muito simples e numa grande paixão por poder mostrar o passado de uma instituição que me diz muito, assim como aos reguenses e, de um modo geral, a quem admira os nossos bombeiros voluntários.
A nossa ideia foi a de convidar para escrever sobre os bombeiros da Régua pessoas que, por uma ou outra razão, nos pudessem deixar o seu testemunho para uma memória futura, a das gerações vindouras. Pensávamos que não devíamos fazer uma viagem ao passado, às nossas raízes históricas, ao dia em que tudo começou - 28 de Novembro de 1880 -, mesmo que fosse importante revisitar o espírito dos nossos fundadores e antepassados, mas que devíamos deixar uma marca visível no tempo presente de uma instituição humanitária que nasceu para proteger vidas e bens e que, ao longo dos anos, foi o espelho de uma sociedade civil que ali deu vida a novos valores solidários e humanitários, afirmou a diferença nos princípios e crenças no respeito pelos mais fracos e desfavorecidos e estimulou o desenvolvimento cultural, ao garantir a abertura da primeira biblioteca pública e ao promover espectáculos  recreativos e musicais, como peças de teatro amador e o glamoroso Baile das Vindimas.
Mais importante do que olhar para o passado dos bombeiros da Régua, é acreditar na sua  capacidade de construir futuro.
Convidámos para colaborar nesta antologia vultos da cultura e do pensamento actuais, escritores, jornalistas, dirigentes de órgãos ligados aos bombeiros, simpatizantes do ideal humanitário e testemunhas de momentos marcantes da vida desta instituição. Cada um escolheu um tema que mais o relacionava com o mundo dos bombeiros, mesmo que alguns, até esse momento, não conhecessem o que estava para lá dos portões de entrada do nosso majestoso Quartel. Convidámos também alguns antigos dirigentes que poderiam fazer um retrato do que foi o seu tempo. Apenas nos faltaram depoimentos de soldados da paz de outrora e de hoje, pois nenhum teve vontade de desvendar os segredos dos fogos em que são sempre heróis anónimos. Mesmo assim, daqui resultou uma diversidade de perspectivas e testemunhos que contribuem para a afirmação, o reconhecimento e a maior notoriedade de uma Associação mais que centenária, bem como para sublinhar a excelência da missão dos bombeiros.
Por isso, a todos os autores que tornaram possível esta inédita antologia - que teve como simples critério a sua apresentação por ordem alfabética -, temos de lhes agradecer pela sua disponibilidade para eternizar em palavras e memórias a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários do Peso da Régua e os seus Soldados da Paz, aqueles que conseguem   dar  vida às vidas.

Decidimos que devíamos também integrar nesta antologia os autores que deixaram escritas matérias muito interessantes para entender a história e o passado dos bombeiros da Régua, mas que se encontram dispersas nos jornais locais, como é o caso dos médicos e escritores João de Araújo Correia e Camilo de Araújo Correia, ambos ligados umbilicalmente aos bombeiros da Régua, do médico José António Pereira de Sousa e do Chefe António Guedes, o único bombeiro que confiou ao papel memórias suas. Achámos ainda oportuno divulgar uma poesia do Comandante Manuel Maria de Magalhães (1880-1896) que, sendo o primeiro a comandar os bombeiros da Régua revelou, desde muito novo, os seus dotes para a escrita.
Embora de José Afonso Soares, historiador que sucedeu a Manuel Maria de Magalhães no comando dos bombeiros da Régua (1896-1927), não conheçamos nenhum artigo jornalístico sobre a nossa instituição, gostaríamos de lembrar este apontamento inscrito na sua História da Vila e Concelho do Peso da Régua (1936-1938): “Devido à eficácia do seu comandante, Manuel Maria de Magalhães, e à grande actividade e amor de mais alguns sócios, do número dos quais se destacaram José Joaquim Pereira Soares dos Santos e Joaquim Sousa Pinto, esta associação progrediu e foi sem dúvida uma das primeiras do país.”
Foi deste mesmo espírito que nasceu a nossa maior intenção, elevar o nome da nossa Associação e fazê-la progredir na alvorada deste séc. XXI. Não temos a certeza de o termos conseguido, sendo certo que o julgamento que de nós fizerem dependerá sempre das nossas acções enquanto sujeitos da nossa própria história colectiva.
Esperamos que cada um dos magníficos textos desta antologia ajude o leitor a fazer o seu juízo e a conhecer melhor uma Associação e um Corpo de Bombeiros Voluntários com que a comunidade reguense pode contar há 133 anos “A bem da humanidade”.

José Alfredo Almeida
28 de Novembro de 2013

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