Nota de apresentação
"A verdadeira generosidade para com o futuro consiste em dar tudo
ao presente"
Albert Camus
Como presidente da Direcção da
Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários do Peso da Régua há mais de
quinze anos e como principal responsável pela organização e edição desta
antologia, compete-me a tarefa de a apresentar aos leitores. Quero dizer-vos
que é um projecto pessoal que assenta numa ideia muito simples e numa grande
paixão por poder mostrar o passado de uma instituição que me diz muito, assim
como aos reguenses e, de um modo geral, a quem admira os nossos bombeiros
voluntários.
A nossa ideia foi a de convidar para
escrever sobre os bombeiros da Régua pessoas que, por uma ou outra razão, nos
pudessem deixar o seu testemunho para uma memória futura, a das gerações
vindouras. Pensávamos que não devíamos fazer uma viagem ao passado, às nossas
raízes históricas, ao dia em que tudo começou - 28 de Novembro de 1880 -, mesmo
que fosse importante revisitar o espírito dos nossos fundadores e antepassados,
mas que devíamos deixar uma marca visível no tempo presente de uma instituição
humanitária que nasceu para proteger vidas e bens e que, ao longo dos anos, foi
o espelho de uma sociedade civil que ali deu vida a novos valores solidários e
humanitários, afirmou a diferença nos princípios e crenças no respeito pelos
mais fracos e desfavorecidos e estimulou o desenvolvimento cultural, ao
garantir a abertura da primeira biblioteca pública e ao promover espectáculos recreativos e musicais, como peças de teatro
amador e o glamoroso Baile das Vindimas.
Mais importante do que olhar para
o passado dos bombeiros da Régua, é acreditar na sua capacidade de construir futuro.
Convidámos para colaborar nesta antologia
vultos da cultura e do pensamento actuais, escritores, jornalistas, dirigentes
de órgãos ligados aos bombeiros, simpatizantes do ideal humanitário e
testemunhas de momentos marcantes da vida desta instituição. Cada um escolheu
um tema que mais o relacionava com o mundo dos bombeiros, mesmo que alguns, até
esse momento, não conhecessem o que estava para lá dos portões de entrada do
nosso majestoso Quartel. Convidámos também alguns antigos dirigentes que
poderiam fazer um retrato do que foi o seu tempo. Apenas nos faltaram
depoimentos de soldados da paz de outrora e de hoje, pois nenhum teve vontade
de desvendar os segredos dos fogos em que são sempre heróis anónimos. Mesmo
assim, daqui resultou uma diversidade de perspectivas e testemunhos que
contribuem para a afirmação, o reconhecimento e a maior notoriedade de uma Associação
mais que centenária, bem como para sublinhar a excelência da missão dos
bombeiros.
Por isso, a todos os autores que
tornaram possível esta inédita antologia - que teve como simples critério a sua
apresentação por ordem alfabética -,
temos de lhes agradecer pela sua disponibilidade para eternizar em palavras e
memórias a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários do Peso da Régua e
os seus Soldados da Paz, aqueles que
conseguem dar vida às vidas.
Decidimos que devíamos também
integrar nesta antologia os autores que deixaram escritas matérias muito
interessantes para entender a história e o passado dos bombeiros da Régua, mas
que se encontram dispersas nos jornais locais, como é o caso dos médicos e escritores
João de Araújo Correia e Camilo de Araújo Correia, ambos ligados umbilicalmente
aos bombeiros da Régua, do médico José António Pereira de Sousa e do Chefe
António Guedes, o único bombeiro que confiou ao papel memórias suas. Achámos
ainda oportuno divulgar uma poesia do Comandante Manuel Maria de Magalhães (1880-1896)
que, sendo o primeiro a comandar os bombeiros da Régua revelou, desde muito
novo, os seus dotes para a escrita.
Embora de José Afonso Soares,
historiador que sucedeu a Manuel Maria de Magalhães no comando dos bombeiros da
Régua (1896-1927), não conheçamos nenhum artigo jornalístico sobre a nossa
instituição, gostaríamos de lembrar este apontamento inscrito na sua História da Vila e Concelho do Peso da Régua
(1936-1938): “Devido à eficácia do seu
comandante, Manuel Maria de Magalhães, e à grande actividade e amor de mais
alguns sócios, do número dos quais se destacaram José Joaquim Pereira Soares
dos Santos e Joaquim Sousa Pinto, esta associação progrediu e foi sem dúvida
uma das primeiras do país.”
Foi deste mesmo espírito que
nasceu a nossa maior intenção, elevar o nome da nossa Associação e fazê-la
progredir na alvorada deste séc. XXI. Não temos a certeza de o termos
conseguido, sendo certo que o julgamento que de nós fizerem dependerá sempre
das nossas acções enquanto sujeitos da nossa própria história colectiva.
Esperamos que cada um dos
magníficos textos desta antologia ajude o leitor a fazer o seu juízo e a
conhecer melhor uma Associação e um Corpo de Bombeiros Voluntários com que a
comunidade reguense pode contar há 133 anos “A bem da humanidade”.
José Alfredo Almeida
28 de Novembro de 2013
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