sábado, 22 de dezembro de 2018

Parras de Natal

Foto:josé alfredo aslmeida



    Gambiarras de folhas verdes, amarelas, encarnadas. De nuances plurais. Presas por fios invisíveis, brilham luz.

    Aqui estão, a partilhar connosco, outoniças e quase inverniças, o espírito de Natal, expressão tão gasta como fundilhos de pobres. Embora filhas de cepas várias, reuniram-se, fraternalmente, para se constituírem uma alternativa natural a arraiais urbanos de espalhafatosos motivos figurativos, onde não faltam gingle bells para todos os gostos.

    Dispensam enfeites. Fazem a festa sem despesa. Reluzem, sem lâmpadas acesas, entoam, em surdina, modinhas ouvidas nos descantes vindimadeiros. Ninguém as foi arrancar entre sobreviventes de fogos fáceis. As folhas não são agulhas afiadas e resinosas, agressivas. São suaves ao tacto e ao trato.

    Poderia recitar-se a lengalenga das castas do Douro, mas essa qualquer um sabe. Há muito está memorizada, como oração de infância à espera de ámen.

    Registamos a mensagem destas parras nossas:

    - A vós, que nos amais, a nós, usufruidoras de paz desataviada, em modéstia isenta de ambições, desejamos isso mesmo. E que sejais rijos e sãos. Que cá estejais no próximo ano. Não seremos nós as protagonistas da decoração, mas não será ela muito diferente. Ámen.




M. Hercília Agarez, Natal de 2018

2 comentários:

  1. A lucidez poética numa bela imagem que traduz um tempo
    de mistificações e de uma certa loucura colectiva.
    Retribuo o prazer que sempre me têm dado desejando-lhes
    um novo ano pleno de harmonia. Obrigada.

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  2. Belas e simples as "GAMBIARRAS " ..
    ..reluzem...ternamente...
    ..Aroma de NATAL...POEMA DE NATAL...!!

    GOSTEI::MUITO::!!

    FELIZ NATAL...

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