Foto:josé alfredo almeida |
Esperem por mim. Sei que gostaria de ir para aí, de me
amesendar no vosso seio enquanto tendes tecto para me abrigar. Não tardarei.
Levar-me-á uma nuvem hospitaleira, na sua crista. Até a uma margem do rio, a um
porto sem abrigo onde apanharei uma barca de passagem sem remador.
Arrastar-me-á o vento, nem sempre vosso amigo. Na realidade, por vezes, ao
despentear-vos, arrelia-vos. Pudera, sois femininas….
Partirei. “Em qualquer aventura, o importante é partir, não é
chegar”, escreveu Torga.
O que buscarei, nesta partida? O sonho, a fantasia, a insensatez consentida, os espaços sem barreiras, as vozes invisíveis e indizíveis, os gestos desconstrangidos, o incumprimento de regras, enfim, a liberdade.
Esperem, pois, por mim. Quero aninhar-me em vós, árvores,
como gato em colo quente. E embebedar-me de um azul que espreitarei entre as
vossas folhas. Quero saborear o cheiro das águas, assistir à vénia do sol, na
hora da despedida.
Não recearei a noite. Se fantasmas me perseguirem,
afrontá-los-ei com a bravura de um D. Quixote a brandir espadas contra moinhos
de vento.
Quando voltar, se voltar, caminharei, penosamente, ao
encontro da realidade: pesadelos, espartilhos físicos e sociais, rotina,
silêncios ambíguos, rame-rame monótono do quotidiano. Regressarei, se
regressar, à clausura de uma domesticidade de panela e de pano do pó…
Contrario Fernando Pessoa. Embora a minha alma não seja
pequena, não acho que tudo valha a pena…
M. Hercília Agarez
07 de dezembro de 2018
..Tão..BELO..o que acabei de ler..
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As palavras ..de tanta riqueza ..de sonho..
de uma VIDA ..bonita ..
E uma PAZ ..exorbitante .simples ..contudo ..!!
Partir também, na aventura das palavras.
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