segunda-feira, 6 de agosto de 2018

Tristeza envergonhada




       Parecem tristes e desconfiados. Cabisbaixa, ela. Indiferentes, ambos. Já aprenderam a distinguir a abastança da exiguidade. Na sua aldeia, na sua escola, não há só raparigas e rapazes. Há, também, (poucos) meninas e meninos. Bem vestidos, bem calçados, de livros novos encapados, de cadernos limpos, de bom papel. Os deles, sebentos, herdados, com manchas de gordura.
         Os outros, crianças de berço, levam, para comer no intervalo, afastados dos pobres, sandes e bolos, não nada  ou pouco - algum naco de broa atrasada com cibo de toucinho.
             Quem lhes terá ensinado a posição das mãos? Subserviência, respeito?
       Percebem a presença de uma máquina que  perpetua momentos. Os pais, jornaleiros, têm em casa uma fotografia do casamento tirada por padrinhos humanos, os patrões da quinta que lhes suga o suor.
           Um rapaz e uma rapariga. Um dia serão uma mulher e um homem "que nunca foram meninos", como escreve Soeiro Pereira Gomes na dedicatória de Esteiros.



M. Hercília Agarez
Vila Real, 06 de Agosto

2 comentários:

  1. Que meninos tristes!
    Está tudo dito no texto. Será tudo, talvez...

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  2. ..Meninos ..com olhar triste...
    .Ooh...pobreza--"cruel"....

    ..Vá a vida ser ..injusta..e incompreensível...?

    ."ESTEIROS"....a POBREZA..REAL.. ..ESCRITA..E VIVIDA..
    OS CINCO MENINOS..
    ... MENINOS DE OLHAR TRISTE...!!!!







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