Não passam um sem a
outra. Ela, exigente, possessiva, sempre a reclamar que dela se ocupem, como
dama vaidosa. Ela, intolerante, não permitindo atrasos, marca o ritmo de
enxadas, de engaços, de pás, de sacholas, de tesouras de poda, de ferros. Não
dá tréguas. Senhora da sua importância, faz valer o seu valor. Parece indiferente a suores de rostos e de
corpos, a ares arreguiçados de frios de roupa pouca, a cansaços calados com zurrapa revigorante. A peso de
pulverizadores a transbordar de calda bordalesa. De cestos vindimos a abarrotar de uvas condenadas, a caminho do
lagar, seu lugar de sacrifício.
Jornaleiro. Terras
não tem. Talvez uma horta com coibes para
o caldo. Anda à jeira. Poucos os direitos, muitos os deveres. Deixá-lo. É seu
único ganho, o trabalho na terra. Nela lhe nasceram os dentes, nela lhe cairão.
Ama-a como se sua fosse. É o seu mundo, o seu espaço de vida entre o nascer e o
pôr do sol. Empunha alfaias suas que as dos outros não estão afeitas à sua mão,
ao tamanho do seu corpo. São o seu património, as armas com que se defende das
ofensivas da vida. Até podem servir para abrir o verde ao vizinho...
O homem e a vinha,
a vinha e o homem. Um duo indissociável.
Dois em um.
Vila Real, 10 de Maio de 2016
M. Hercília Agarez
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