Foto: josé alfredo almeida |
Aquele é um dos seus poisos favoritos em dias soalheiros. Quais velhos reformados, aí marcam encontro, não para falarem da crise, nem para coscuvilharem a vida da patarada alheia. São patos filófosos e, ao mesmo tempo, românticos. Enchem os olhitos de horizontes sem fim, feitos de luz e de cores, de sons do rumorejar apaziguante de um rio espelho. Por vezes, aquele Douro domesticado é só deles. Como naquela tarde. Olham-no, embevecidos, orgulhosos de o destino lhes ter concedido aquele habitat e uma liberdade de movimentos de quem é o exclusivo dono de si mesmo.
Mas não se pense que não têm angústias existenciais, que não questionam e acusam o Criado. Ali ou noutro ponto de encontro, argutos observadores da realidade circundante, discutem questões da vida animal. Vêem os garnisés do Museu alimentados como lords e eles a ter de se se fazer à vida. Preço da liberdade! Pior. Olhando para o céu ciumentam-se com a elegância do voo das garças, com as acrobacias da "arraia-miúda" ornitológica e, de vez em quando, com o garbo planante de aves de rapina cuja performance demonstra a idealização das "máquinas voadoras". E eles? A quantos polegadas do solo se aguentam no ar? Não os olharão com piedade espécies outras vocacionadas para voos de longo curso?
Apesar e tudo serão felizes até ao momento em que mão de rapina os sacrifique à panela, agora que está na moda o arroz de pato...
M. Hercília Agarez
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