Pelas contas que pude fazer, a Régua e Ovar andam de mõs dadas há cerca de duzentos anos, pois se admite como certa a fixação das primeiras colónias vareiras na Régua, logo a seguir à construção dos armazéns da Companhia Geral das Vinhas do Alto Douro, em 1790..
Com a fundação da Companhia, em 1756, a Régua estremeceu de futuro. O Marquês, ao fomentar o plantio da vinha e ao abrir e disciplinar o comércio do vinho, apontou à Régua um progresso até aí nunca aproveitado, apesar da sua privilegiada situação geográfica.
De noite para o dia, a Régua se transformou no centro nevrálgico de uma agricultura e comércio bafejados por um futuro promissor. Houve o que se pode dizer, uma corrida ao Douro, particularmente à Régua, sua espontânea capital. Acorreu gente de perto e de longe. De longe acorreram galegos e vareiros.
Com natural aptidão para o granjeio e o pequeno comércio, os galegos foram largamente aproveitados no cultivo da vinha e na venda ao balcão do vinho quotidiano. Pelo significado de uma expressão que ainda hoje se houve por todo o Douro, se advinham as dificuldades de vida da simpática emigração galega por terras do vinho fino. Quando se depara com um ajuntamento imprevisto, há sempre quem exclame:
- Oh!...Pariu aqui a galega!...
(...)
Se me alarguei nesta referência ao fio galego do tecido etnológico da Régua é por achar que em muito se compara ao fio vareiro. Galegos e vareiros apareceram na Régua pela mesma altura e começaram nela e com ela um futuro paralelo.
(...)
HÁ SAL NA RÉGUA! foi uma expressão exclamativa na boca de quem o anunciava, ansiosamente, no recôndito das terras privadas por qualquer anomalia na rota. Hoje é uma afirmação. HÁ SAL NA RÉGUA quer dizer que há sangue vareiro nas veias da Capital do Douro.
HÁ SAL NA RÉGUA, como expressão afirmativa é também o título de uma interessante conferência de João de Araújo Correia, proferida na Casa do Concelho de Ovar, em 21 de Junho de 1958.
Deve ler essa conferência quem mais rejubila com a geminação das Cidades de Ovar e Peso da Régua. João de Araújo Correia soube dizer, a este respeito, mais e melhor do que foi possível à minha ignorância."
25 de Julho de 1991
Camilo de Araújo Correia
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