Ardina – ( chega a correr… apregoa
os jornais acabados de chegar no comboio)
Olh’ó Notícias… olh’ó
Século!!! Olh’ó 1º de Janeiro!
Ó freguês vai um
jornal?
Pé descalço, manhã
cedo
Cheio de vivacidade
Corro depressa e sem
medo
Aldeia, vila ou
cidade.
Ardina – Pois
então!!! A minha vida é esta…
Trago notícias
fresquinhas,
Vindas de última hora
Ganho para as
batatinhas,
Trabalhando sem
demora
Ardina - Mas a minha vida, não foi só aqui…na
Régua…Vivi alguns anos em Lisboa. Fui “marçano”, mas estava muito preso na
mercearia…Vivia todo o dia debaixo da alçada do meu patrão…dormia, comia e
trabalhava sempre ali na Rua dos Corrieiros!!! Eu não sou pássaro de gaiola… A vida nas ruas
de Lisboa atraia-me…o movimento, os turistas, o elétrico, as casas de fado…Com os meus novos amigos
tornei-me ardina!!! Corria por todo o lado!!! Conhecia a cidade como ninguém…até
há uma canção que retrata a minha vida!
Canção “ Pregão do ardina de Lisboa”
Sobe as ruas, desce
as ruas
Bem ladino e
apressado
A sua voz em Lisboa
Ecoa por todo o lado.
Olho vivo e pé
ligeiro
Na boca sempre uma
graça
Corre, corre às vezes
cora
Quando uma garota
passa.
Olha o Século! Olha o
Notícias!
O Diário Popular! O Diário
de Lisboa
Que acaba de
chegar!...
REFRÃO
Lá vai ele pela rua
fora
Lá vai a sua voz à
toa
Aqui têm o pregão
Aqui têm o pregão
Do ardina de Lisboa.
Olha o Século! Olha o
Notícias!
O Diário Popular! O
Diário de Lisboa
Que acaba de
chegar!...
Lá vai ele pela rua
fora
Lá vai a sua voz à
toa
Aqui têm o pregão
Aqui têm o pregão
Do ardina de Lisboa.
Ardina - Olha o Século! Olha o Notícias!
( entra o médico da terra …figura muito querida )
Dr. João de Araújo
Correia – Mas que animação, sim senhor!
Ardina – É verdade, são as lembranças de Lisboa!...Então o senhor
doutor…por aqui!? O senhor doutor passou bem?
Dr. João de Araújo Correia – Bem
obrigado! Que surpresa, aqui hoje no largo da estação… Fiz bem em deixar o meu
carro ali estacionado!!!
Ardina – Hoje é dia de feira…Qual é o jornal que vai
hoje, senhor doutor?
Dr. João de Araújo Correia – Olha,
dá-me aí o 1º de Janeiro. Não viste por
aí a Maria?
Ardina – …qual Maria,
a República?
Dr. João de Araújo Correia – Sim, essa
mesma, a República.…Ela, às vezes, ainda traz umas fiadas de sável que o homem
vai pescando!
Ardina – Aiiii senhor
doutor…SÁ-VEL??? Esse peixe quase já não
aparece aqui no rio Douro…não sei o sumiço que levou…
Dr. João de Araújo Correia –
Isso sei eu! E tu não sabes porquê??
Ardina – Atão! Senhor
doutor…sei lá!!! Deve ter emigrado p´ró estrangeiro…
Dr. João de Araújo Correia– São
a barragens... que se construíram e ainda se vão fazer mais no rio Douro! Eu
sei que as barragens têm as suas funções…mas este peixe levou guia de marcha!
Ardina – E o senhor
doutor, não gosta das bogas???Há por aí tantas!!!
Dr. João de Araújo Correia – O
sável é especial!!! Que diabo de mosca terá mordido ao sável que chegava a
enfastiar? Bem fritinho em fresco ou em escabeche, com um bom vinagre!!! É
comer e ficar regalado!!!
Ardina – Estou a
ver…estou a ver que é um bom petisco…mas senhor doutor…já que não há
peixinho…Leve uma cautela..
Dr. João de Araújo Correia –
Dá-me lá então uma cautela e o 1º de Janeiro! Ainda vou até acima, ao Fial, ler
as notícias…
Ardina - Ah pois é…o
senhor doutor gosta muito daquele sítio, não gosta?
(fazem
as trocas…)
Dr. João de Araújo Correia – Dalí,
eu vejo o Peso, a igreja, o casario mais antigo…Vejo o rio que ao despedir-se
da Régua se espreguiça… numa grande curva… lá depois do Salgueiral!
Ardina – Pois é
senhor doutor, é no Santinho!!!
Dr. João de Araújo Correia – E
onde andam as “santinhas” das tuas amigas rebuçadeiras???
(ouvem-se vozes…e gargalhadas)
Ardina – Ouça, senhor
doutor…ouça bem!!! Parece que chegaram os Robertos…olhe! Elas têm de acompanhar
o farrancho!!!
Dr. João de Araújo Correia – ( consulta o relógio de bolso) Que pena…não posso
ficar e se calhar já nem posso ir dar a minha voltinha! Vou direito para o
consultório…posso ter lá algum doente à minha espera! Até depois…
Ardina – Até depois
senhor doutor!!! (volta)
Isto é que é…um médico…amigo do seu doente…E
quantos trata sem lhes levar um tostão?
Ele é médico…ele é escritor…Deus o conserve…Deus lhe dê muita saúde para
tratar da saúde dos outros!
( vão chegando os Robertos…e o ardina apregoa a sorte…)
Olha a taluda…3.227 o
número da sorte! Compre…anda a roda amanhã!
Fiquei muito sensibilizada e feliz,
ResponderEliminarpor poder ver "Esta fotografia"!