Esta escrita organiza-se na construção
de uma memória, constitui-se meticuloso inventário íntimo. Ficciona o
tempo para obter matéria narrativa. Recusando a recordação nostálgica,
estabelece-se como trabalho de arqueologia: procura em camadas, até
achar o que já foi ouvido, herdado, roubado, esquecido. Esta escrita
faz-se e refaz-se contra a morte:
«Das fotografias antigas, o que de mais terrível fica é saber-se o fim.»
Narrar é produzir o real, narrar resgata, redime.
«chegar ao passado e dizer, à menina das tranças: não chore, nós gostamos tanto de si, e abraçá-la, ocupar o lugar de uma boneca feia que ela agarra e chamá-la ao ouvido: minha princesa.»
Beatriz Hierro Lopes
Sem comentários:
Enviar um comentário