Era a procissão das velas, a noite parecia-me um manto de
veludo, depois do jantar juntávamo-nos ao cortejo em direcção à igreja matriz.
Houve uma altura em que eu vi compor o andor, um segredo
fechado, feito de trabalho, empenho e fé.
As velas acesas, os passos numa marcha lenta, as varandas e
janelas, enfeitadas com colchas. Chegávamos ao Peso a cantar, unidos numa fé
contagiante, para mim que era criança e acreditava sempre no que não via nem
sabia, era algo de transcendente, maravilhoso.
A igreja estava iluminada e o sermão era feito pelo
Sr. padre ao ar livre.
Entre o cansaço e a vontade de me manter bem lúcida e
acordada, tenho vagas lembranças de rostos e expressões que guardo comigo sem
saber quem eram, iluminados pela magia das velas.
A igreja matriz, onde eu fiz as comunhões e o crisma e vi
pessoas que eu amo, também fazer a comunhão e guardei esses dias como quem
guarda amêndoas, num dia de Páscoa.
Tive a honra de conhecer o Sr. padre João, ternurento
e confiável, que pensava que eu tinha vocação quem sabe, para vir a ser freira.
Por eu ser uma excelente e devota aluna na catequese. Naquela altura essa ideia
passava-me pela cabeça, tal como ser artista, manicura, ou índia num país
de cowboys.
Na igreja matriz vivi alguns momentos importantes, todos ou
quase todos associados a festas, a doces, a flores.
Um tempo distante,
tão perto de mim.
Ana de Melo
Sem comentários:
Enviar um comentário