domingo, 17 de maio de 2020

Um tempo distante, tão perto de mim





Era a procissão das velas, a noite parecia-me um manto de veludo, depois do jantar juntávamo-nos ao cortejo em direcção à igreja matriz.
Houve uma altura em que eu vi compor o andor, um segredo fechado, feito de trabalho, empenho e fé.

As velas acesas, os passos numa marcha lenta, as varandas e janelas, enfeitadas com colchas. Chegávamos ao Peso a cantar, unidos numa fé contagiante, para mim que era criança e acreditava sempre no que não via nem sabia, era algo de transcendente, maravilhoso.

A igreja estava iluminada e  o sermão era feito pelo Sr. padre ao ar livre.
Entre o cansaço e a vontade de me manter bem lúcida e acordada, tenho vagas lembranças de rostos e expressões que guardo comigo sem saber quem eram, iluminados pela magia das velas.


A igreja matriz, onde eu fiz as comunhões e o crisma e vi pessoas que eu amo, também fazer a comunhão e guardei esses dias como quem guarda amêndoas, num dia de Páscoa.

Tive a honra de conhecer o Sr. padre João,  ternurento e confiável, que pensava que eu tinha vocação quem sabe, para vir a ser freira. Por eu ser uma excelente e devota aluna na catequese. Naquela altura essa ideia passava-me  pela cabeça, tal como ser artista, manicura, ou índia num país de cowboys.

Na igreja matriz vivi alguns momentos importantes, todos ou quase todos associados a festas, a doces,  a flores. 
Um tempo distante, tão perto de mim.


Ana de Melo

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