Foto: josé alfredo almeida |
Apenas dois elementos da paisagem. O natural, rio argiloso e ardiloso, em mudança de andamento. Uma sinfonia de castanho baço e tristonho. O edificado. Dégradé de tons terra em base de ponte, cromaticamente em comunhão com as águas castigadas. A mutabilidade leviana de uma corrente que gosta de surpreender, pelo belo e pelo feio, serve de fundação a uma obra de engenharia onde se associaram a arte e o engenho, a concepção e a execução, a mente e as mãos. Do lápis e do papel ao pico e ao maço.
Assim exposta, neste enquadramento, tem honras de vistas paradas, fixas. E vale a pena desviar o olhar para este alicerce da ponte ferroviária. E apreciar a perfeição dos alinhamentos criteriosos e minuciosos das peças de um xadrez em granito, digno e imorredouro. Um profissionalismo de execução dos pés à cabeça.
Rio e ponte. São cúmplices. Estão cúmplices. Convivem há muitos anos, nenhum com ilusões de mudar de residência.
Pontes da Régua. A cada uma a sua história, as suas datas, os seus intervenientes, os seus utentes. Para mudar de margem. Do pedonal a passo de passeio, ao acelerar ao ritmo das urgências e da adrenalina. Do ferro à alvenaria, ao betão. Do nobre ao plebeu. Do artístico ao utilitário. Do romântico ao vanguardista. Do engenho e arte ao desafio tecnológico. Escreveu Amiel: “Mil coisas avançam, novecentos e noventa e nove recuam: é isso o progresso”.
M. Hercília Agarez
Vila Real, 06 de Janeiro de 2020
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