segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

Não estás aqui





Não estás aqui. Nem na minha vida, nem no meu sonho. Não estás nem no
que eu amo nem no que eu quero. E nem no que eu preciso. E nem no que
eu odeio. Não estás, sequer, entre as coisas que me são indiferentes.
Simplesmente não estás. Nem és. Nem poderás ser alguma vez. Sendo
assim, és apenas o que não és. Logo, não existes, não contas, não
respiras, não vives.E não serás recordação. Não haverá memória de ti,
apenas memória da tua não presença, de uma luz que nunca se acendeu,
de um rio que não tem água, de um recado que não tem palavras, de um
filme que não tem imagens. E ainda assim falo de ti. Ainda assim, faço
de conta que existes, fantasma do meu texto, espírito do nada que me
escreves quando escrevo. Inexistência do que é. Certeza de tudo o que
é incerto. Sentimento do que não pode ser sentido.



Joaquim Pessoa

1 comentário: