Foto:josé alfredo almeida |
há sempre um poiso seguro
para descanso de cansaços:
aventura
(inédito)
Como não tenho família e sou gaivota de
poucos amigos, ninguém estranhará a minha ausência em consoadas, natais e
réveillons.
Os meus companheiros de espécie, fartos de
conhecer céus, rios e mares, em alturas e baixuras neste norte onde o frio se
sente em casa, andam, há tempos, a moer-me a paciência. Que parece impossível
não constar do meu currículo viageiro a arribação em margens durienses. Que não
sei o que perco. Que o rio tem histórias de aterrar (antes) e de encantar
(depois). E, pelos vistos, de vez em quando quer botar figura ao mostrar uma
virilidade devastadora, feita de roncos ameaçadores, apreciando, depois, cinicamente,
estragos inundadores e prejuízos cíclicos.
Resolvi meter férias de águas salgadas e
vim adocicar o bico por estas bandas aquosas. E fiz a viagem empanturrado de
expectativas, sem nunca descrer de louvores entoados quase religiosamente por
habitués. Desta não estava eu à espera, perante promessas doutorais de sol e de
sossego. Nunca fiando…E olhem o que me saiu na rifa! Nem azul de céu, nem
esverdeado de águas, nem claridade prazenteira. Pareço, neste poiso hospitaleiro,
uma ilha branca rodeada de cinzento, encimada de cinzento, pousada em cinzento.
Lá dizia a minha mãezinha: “Boa festa faz quem em sua casa fica em paz…”
M. Hercília Agarez
Vila Real, 03 de Janeiro de 2020
Sem comentários:
Enviar um comentário