domingo, 5 de janeiro de 2020

Ilusão de óptica?

Foto:josé alfredo almeida




Quem vê o céu na água, vê peixes sobre as árvores.

(máxima chinesa)

   

  Pois é! Isto é mesmo na Régua! Ainda hesitei no palpite porque só lhe conheço um rio. Afinal são dois, “dois caminhos paralelos”, de igual catadura sombria e amuada, envergonhados das vestes de viúvas em alívio de luto.

  Por solidariedade, o céu envergou a sua toilette de antipático, de birra, e, numa espécie de mimetismo, acizentaram-se montes arrepiados de frio.

 Árvores adultas e robustas, enterradas pela enxurrada até à cintura, separam águas vizinhas, não vão elas, ciumentas, travar-se de razões, borrando, ainda mais, a pintura… De cabeças levantadas e conformadas, gozam o espectáculo de palanque. E sentem-se vedetas, apesar de toucadas de verde murcho e desbotado. Sempre é um cibo de cor… E cochicham, maldosamente, escondendo risos, ao verem os olhos em bico e o ar de basbaques de quantos, em tempos de sempre objectiva no bolso, as retratam em pleno e demorado banho, à espera de um sol que lhes sirva de toalha, quando as suas partes baixas sairem do castigo.

  A mim, o que me valeu para localizar sem equívoco a cena no mapa fluvial do país, foi aquele vulto negro e esguio como cipreste, alcandorado em alturas onde não há cheia que chegue. “Quem tem capa, sempre escapa”, não é, mister Sandeman?


M. Hercília Agarez
Vila Real, 05 de Janeiro de 2020

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