Foto:josé alfredo almeida |
Quem vê o céu na água, vê peixes
sobre as árvores.
(máxima
chinesa)
Pois é! Isto é mesmo na Régua! Ainda hesitei no palpite porque só lhe conheço um rio. Afinal são dois, “dois caminhos paralelos”, de igual catadura sombria e amuada, envergonhados das vestes de viúvas em alívio de luto.
Por solidariedade, o céu envergou a sua toilette de antipático, de birra, e, numa espécie de mimetismo, acizentaram-se montes arrepiados de frio.
Árvores adultas e robustas, enterradas pela enxurrada até à cintura, separam águas vizinhas, não vão elas, ciumentas, travar-se de razões, borrando, ainda mais, a pintura… De cabeças levantadas e conformadas, gozam o espectáculo de palanque. E sentem-se vedetas, apesar de toucadas de verde murcho e desbotado. Sempre é um cibo de cor… E cochicham, maldosamente, escondendo risos, ao verem os olhos em bico e o ar de basbaques de quantos, em tempos de sempre objectiva no bolso, as retratam em pleno e demorado banho, à espera de um sol que lhes sirva de toalha, quando as suas partes baixas sairem do castigo.
A mim, o que me valeu para localizar sem equívoco a cena no mapa fluvial do país, foi aquele vulto negro e esguio como cipreste, alcandorado em alturas onde não há cheia que chegue. “Quem tem capa, sempre escapa”, não é, mister Sandeman?
Vila Real, 05 de Janeiro de 2020
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