Foto:josé alfredo almeida |
Nas margens de um rio
de oiro,
crucificado entre o calor do céu que de cima o bebe
e a sede do leito
que de baixo o seca,
erguem-se os muros do milagre.
Miguel Torga
Os olhos da esperança vêem nestes patamares
desnudos mas de aspecto saudável a garantia da preservação da identidade
paisagística do Douro vinhateiro. Dá até para esquecer os geios-cemitérios de
muito má memória e para visualizá-los em cor de cepas, e pâmpanos, e folhas, e
frutos, e esteios de xisto. Um presente com futuro. O vinho de amanhã. O pão de
muitos de amanhã.
Patamares dourados e promissores. Não já
construídos à força da força braçal de homens gigantes em ânimo, poucas vezes
com jornas justas, muitas vezes com raivas engolidas, de quem a história só reza
como elementos constitutivos de um povo anónimo.
Não. Há muito irrompeu, Douro dentro, a
fúria impetuosa e ensurdecedora de motores roncantes, dando início à era da
técnica. Chegaram as máquinas, tão saudadas por um Fernando Pessoa pela voz de Álvaro
de Campos:
Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r eterno!
Forte
espasmo retido dos maquinismos em fúria!
[…]
Arde-me a
cabeça de vos querer cantar com um excesso
De
expressão de todas as minhas sensações,
Com um
excesso contemporâneo de vós, ó máquinas!
[…]
Adubos,
debulhadoras a vapor, progressos da agricultura!
In “Ode Triunfal”
Máquinas ufanamente metaforizadas por um
António Cabral de ideais neo-realistas e de paixões pelo seu “país do vinho e
do suor”, pelo seu “paraíso álacre das vindimas”:
Douro, eh lá, uma
nova era se anuncia
e traz aos nossos ouvidos uma promessa de rosas.
Ouço já o crepitar das metralhadoras
da paz,
esses corações de aço que se chamam tractores.
[…]
As enxadas deixarão de cavar o
desespero;
o ferro e a
pá arrumar-se-ão nos arquivos da memória.
“Douro,
meu belo país” in Poemas Durienses
M. Hercilia Agarez
.. Esperança .."que renasce ...!!
ResponderEliminarQue se eterniza ..!!!