Foto:josé alfredo almeida |
Lá longe, de mansinho, num lusco-fusco de luminosidade coruscante mas fugaz, instalou-se, num Douro de águas e montes, um crepúsculo surpreendente. O sol declinante sol, ainda cheio de genica, realça o acobreado de cumeadas pouco afeitas a estas tonalidades ruivas, ocres, fulvas, num indefinido de paleta a oscilar entre o ouro velho, a ferrugem jovem, o brique e o alaranjado. Com o céu por resplendor, com o rio por compadre corográfico, este conjunto, feito de harmonia pacífica, de graciosidade, de arrojo, é um desafio à sensibilidade e ao sentido estético de quem tem o privilégio de lhe pousar olhares de espanto.
Um convite a um pare e veja sem pressas. À concentração contemplativa e melancólica. À introspecção. À criação poética. A suspiros surdos de corações enamorados. E à oração, por que não. Que o reino de um Pai que nos dá o pão venha até nos, mais vezes, com esta magnificência. Que Ele não nos deixe cair na tentação de maldizer a obra de que foi Criador. E, se não for pedir muito, que perdoe as nossas ofensas: faltas de civismo, negligências, adulteração paisagística, em nome de todos os progressos, de todos os interesses económicos, de todos os caprichos.
M. Hercília Agarez
Vila Real, 07 de Abril
Apanhar um momento nas redes da eternidade: privilégio ou dom? Um ou outro, que sejam. Raros, que são.
ResponderEliminarO BELO que se eterniza ..!?
ResponderEliminar..Olhar que olha ..e "vê "
..UM POEMA ..RARO ..BELO..!!
O TEXTO..É DELICIOSO !!!
A beleza da fotografia, junta-se harmoniosamente com a beleza da escrita.
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