domingo, 18 de novembro de 2018

Quem tem a chave?

Foto:josé alfredo almeida


Pedras sobre pedras. Arrumadas, umas, em forma de casa, desalinhadas, outras. Todas abandonadas. Todas dando guarida a musgo de pálidos e doentios tons esverdeados e amarelos.

Quem terá a chave do casebre cuja fechadura aguarda, pacientemente, afago de mão humana? A porta, em madeira carcomida na base, teve honras de moldura construída com critério simétrico. Há muito abandonada, desde a morte dos velhos que morreram de velhos. Os seus herdeiros, partidos em busca de futuro seguro, desdenharam da herança. Se voltarem, esperá-los-á moradia moderna e confortável, feita de migalhas amealhadas durante uma vida de sacrifícios e cansaços.

Não podemos entrar, a não ser com a imaginação. No entanto, presumo que no interior, dentro destas pedras graníticas, robustas mas envergonhadas, apenas habite o invisível, o incorpóreo. E penso nos versos finais do soneto "O Palácio da Ventura", de Antero de Quental:


                                               Mas dentro encontro, só, cheio de dor,
                                               Silêncio, escuridão e nada mais!



M. Hercília Agarez
Vila Real, 18 de Novembro de 2018

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