sábado, 10 de novembro de 2018

Choram os chorões

Foto:josé alfredo almeida


Pois é! Gostais de nascer e crescer com os pés molhados, sem receio de gripes ou meras constipações. E, assim, vos desenvolveis saudáveis, acolhedores, em copas imensas, farfalhudas.

Contrariamente às vossas colegas decorativas, como vós frondosas e parideiras de sombras benfazejas, os vossos galhos, em vez de se espreguiçarem em direcção ao sol, preferem reverenciar o solo que vos foi ninho e berço. Inclinados, como crentes em momentos de devoção, pareceis envergonhados da vossa condição. Submissos e conformados, contentais-vos com a vossa singularidade. Ou sois, caros chorões, birrentos como os humanos e, como eles, impantes espíritos de contradição?


                                      Ramos descendentes
                                              pisam terra, bebem rio:
                                              choram os chorões.



M. Hercília Agarez
Vila Real, 10 de Novembro de 2018

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