Está de regresso a
casa, a senhora Maria Melra. Encontrara-se, na fonte, palco de todas as
conversas, de todas as trocas de novidades, de todos os desabafos, com a
comadre Encarnação. Não se viam há uns dias, toca de aproveitar o tempo. Os
cântaros lá se iam enchendo, contentes, sob o olhar atento do mulherio, respeitador
da sua vez. E as revelações atropelavam-se: a Engrácia estava prenha do Quim do
Quelho, um valdevinos sem eira nem beira; o Tobias Quartilho teve uma
"trambósia" e entaramelava-se-lhe a voz; a menina mais nova do senhor
engenheiro não engordava por mor das bichas; o mordomo da festa, o Tonho da
Maria Mouca, guicho, já andava a pedinchar para o foguetório; a cozinheira da
Quinta das Amoreiras andava metida com o patrão; o senhor padre Jeremias estava
cada vez mais mouco e taralhouco; a mestra andava com os calores (com oito
filhos, já estava aviada...); o viúvo da Ti Ambrósia já estava de casa e
pucarinho com a Rita Remelas. E muito, muito mais. Ficaria para a vez seguinte.
À porta de casa, a
Fatinha, o exemplo de todas as virtudes, aguardava a frescura e a leveza
daquela água. A senhora Maria Melra sorriu para a fotografia, toda ancha,
queixou-se das dores nas cruzes, do reumático e das abafações do homem.
A vida. No tempo
em que a água cantava nas fontes.
M. Hercília Agarez, 20 de Fevereiro de 2017
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