Foto:: josé alfredo almeida |
“É agora o tempo das podas- como calculam. A seiva está morta nos caules e nos ramos. As filas de choupos que bordam os ribeiros são teorias de espectros, almas penadas da Primavera e do Verão. Que, onde melhor se conhece o Inverno é aqui, no sítio onde eu moro, entre vinhas baixas. As curvas destes montes rebentavam de verde ainda o outro dia, veio o Outono, tingiram-se de roxo, lambuzaram-se de oiro. Desta pompa nada resta. Cepas e vides nuas cingem o corpo dos montes. É um abraço de esqueletos. Coisa triste… Apenas a anima o trabalho dos homens, o tic, tic, tic e a cintilação dos bicos das tesoiras. É o tempo das podas, é a vez dos podadores. Eles curvam-se como cirurgiões teimosos sobre o ventre das videiras mortas. Cortam, chapotam, bafejam – hão-de ver se ressuscitam. Já nos cerros abriu a flor da amendoeira. Vem aí a seiva. É preciso podar.
Nas madrugadas de Janeiro, e ainda em Fevereiro, quem me acorda não é o cantar dos pássaros. Eles agora estão mudos. Quem me acorda, nestas manhãs geladas, chuvosas ou nevoentas, são os podadores. Aí pelas cinco, oiço o primeiro estrupido de socos descer a minha rua. São eles. Acordam-me. Todavia, eu não me zango, não dou ao diabo o barulho que fazem pisando os cóios da íngreme calçada onde resido.
Precisam de trabalhar, e eu também. Toca a erguer. Vou-lhes no rasto…”
João de Araújo Correia in Três Meses de Inferno
Reparo , olho, atenta ..
ResponderEliminarAs videiras" despidas "..
vestem -se ..de cores., leves ,
bonitas.. e ",
"adormecem" por entre a paisagem!