quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Montes pintados


Foto: josé alfredo almeida
 
Dedicado ao meu amigo Paulo Varela Gomes, grande historiador da paisagem e um dos melhores romancistas portugueses  do nosso tempo.
Este é o meu olhar da paisagem do Douro, os seus vinhedos com as cores de outono, ontem a chegar à Cambres-Lamego.



  Paisagem é isto, a maneira de olhar e de escrever de Eça de Queiroz. Mais de um século depois, o Douro já não é exactamente assim mas reparem como Eça enquadra a região que está a ver e no-la oferece com a generosidade de quem compõe um quadro:


 “Rolávamos na vertente de uma serra, sobre penhascos que desabavam até altos socalcos cultivados de vinhedo. Em baixo, numa esplanada, branquejava uma casa nobre, de opulento repouso, com a capelinha muito caiada entre um laranjal maduro. Pelo rio, onde a água turva e tarda nem se quebrava contra as rochas, descia, com a vela cheia, um barco lento carregado de pipas. Para alem, outros socalcos, de um verde pálido de reseda, com oliveiras apoucadas pela amplidão dos montes, subiam até outras penedias que se embebiam, todas brancas e assoalhadas, na fina abundância do azul.”(Eça de Queiroz, “A Cidade e as Serras”, 1901)

  Paulo Varela Gomes

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