Foto: josé alfredo almeida |
"Em criança não nos despedimos dos lugares.
Pensamos que voltamos sempre.
Acreditamos que nunca é a última vez”.
Mia Couto
Falar da Régua e do Rio Douro, é também falar de mim.
O que é um corpo sem alma?
A alma que me habita é feita de memória, muita dela líquida por causa do rio que se serpenteava à frente das janelas da minha casa no Corgo, para onde eu fui viver aos cinco anos de idade.
Fui viver para a Régua vinda de Lamego, para o "Largo da Ponte", com poucos meses de vida, onde permaneci até aos cinco anos. Levei comigo a visão dos ciganos que subiam a rampa em direcção ao Largo, das vendedeiras de castanhas, e a presença silenciosa do rio.
Foi no Corgo que me desenhei por dentro.
Absorvia tudo ao meu redor...
As lavadeiras que passavam a caminho do rio, onde a cumplicidade, as cantigas, e possivelmente as angústias da vida eram compartilhadas.
A feira das quartas-feiras, o burburinho a azáfama das pessoas que desciam das aldeias e lugarejos. De burro, a pé, de camioneta para venderem os seus produtos.
As vindimas.
As rogas que me despertavam bem cedo.
Homens e mulheres a cantarem, ao som do acordeão.
Uma altura de um pouco de desafogo, para tantas famílias no limiar da pobreza.
E o rio.
Majestoso.
O rio, dos meninos que nos dias de Verão passavam felizes, de câmara-de-ar à volta do pescoço, que servia de bóia para nadar nas suas águas...
O rio, das manhãs de dor, em que os gritos das Mães, mulheres ou filhas, acordavam os ares, à espera de um corpo... Por vezes, de um milagre.
O rio, de cor parda que passava diante de mim levando, arrastando consigo árvores, animais, mobílias...
Das pessoas que não dormiam, e ficavam de guarda ao rio durante toda a noite.
Das casas que eram só telhado, o resto era água...
E o olhar das pessoas magoado.
A Régua.
Das procissões.
A feira das quartas-feiras, o burburinho a azáfama das pessoas que desciam das aldeias e lugarejos. De burro, a pé, de camioneta para venderem os seus produtos.
As vindimas.
As rogas que me despertavam bem cedo.
Homens e mulheres a cantarem, ao som do acordeão.
Uma altura de um pouco de desafogo, para tantas famílias no limiar da pobreza.
E o rio.
Majestoso.
O rio, dos meninos que nos dias de Verão passavam felizes, de câmara-de-ar à volta do pescoço, que servia de bóia para nadar nas suas águas...
O rio, das manhãs de dor, em que os gritos das Mães, mulheres ou filhas, acordavam os ares, à espera de um corpo... Por vezes, de um milagre.
O rio, de cor parda que passava diante de mim levando, arrastando consigo árvores, animais, mobílias...
Das pessoas que não dormiam, e ficavam de guarda ao rio durante toda a noite.
Das casas que eram só telhado, o resto era água...
E o olhar das pessoas magoado.
A Régua.
Das procissões.
Da Senhora do Socorro.
Das festas da Alameda...
Da cultura.
Do teatro na escola, das peças representadas, do incentivo às artes.
Da Biblioteca dos Bombeiros responsável pelo vício da leitura de várias gerações.
A Régua de tradições.
Da Pascoela, e da espera demorada do Sr. Padre, para beijarmos a cruz.
Dos cheiros.
Do arroz doce da aletria do leite-creme...
Do Vinho do Porto.
A Régua vista pelos meus olhos de criança.
Sei que a Cidade da Régua hoje está diferente, sei-o pela televisão, pelas pessoas amigas ou conhecidas.
Cresceu, modernizou-se.
Em alguns aspectos para melhor, noutros certamente que não.
Ganha-se e perde-se sempre que alguma coisa muda.
Há muitos anos que não vou à Régua.
Embora lá voltasse muitas vezes.
Das festas da Alameda...
Da cultura.
Do teatro na escola, das peças representadas, do incentivo às artes.
Da Biblioteca dos Bombeiros responsável pelo vício da leitura de várias gerações.
A Régua de tradições.
Da Pascoela, e da espera demorada do Sr. Padre, para beijarmos a cruz.
Dos cheiros.
Do arroz doce da aletria do leite-creme...
Do Vinho do Porto.
A Régua vista pelos meus olhos de criança.
Sei que a Cidade da Régua hoje está diferente, sei-o pela televisão, pelas pessoas amigas ou conhecidas.
Cresceu, modernizou-se.
Em alguns aspectos para melhor, noutros certamente que não.
Ganha-se e perde-se sempre que alguma coisa muda.
Há muitos anos que não vou à Régua.
Embora lá voltasse muitas vezes.
Em sonho.
Acho que prefiro assim.
Intacta.
Um vale encantado.
Onde tudo permanece igual.
Até a minha velha e grande casa, continua lá, com o som da minha voz a ecoar pelas quintas e quintais.
Acho que prefiro assim.
Intacta.
Um vale encantado.
Onde tudo permanece igual.
Até a minha velha e grande casa, continua lá, com o som da minha voz a ecoar pelas quintas e quintais.
Com o som de todas as vozes, que eu amei.
E não uma estrada, a passar-lhe mesmo por cima do coração...
Ana de Melo
E não uma estrada, a passar-lhe mesmo por cima do coração...
Ana de Melo
Tão enternecedor, delicado , este texto.
ResponderEliminarMomentos que "alguém" guarda , no coração ,
com muito "Amor " ..
Uma suave "nostalgia" , o preenche ,sim!
"Doces" e ternas Lembranças que perdurarão na memória...para todo o sempre. :)
ResponderEliminarPaula Pedro