Foto:josé alfredo almeida |
A
surpresa é a prova da verdadeira coragem
Aristóteles
Este Douro vinhateiro tem sempre uma escondida na manga. Não se satisfaz com vistas de ver de quem o mira e remira, de quem o estuda e revê a matéria, de câmaras e pincéis, de desvendadores de inspirações.
Quem não tem um pouco de ambição, não sai da cepa torta. Ele nunca sai das cepas, ele é cepas. Tortas ou direitas, foram criadas para a procriação. Se saem estéreis, lume com elas.
Quem desenhou estas fiadas de vinhas deve ter tido as suas razões e os seus conhecimentos empíricos. Na escola pouco ou nada estudaram em matéria de geometria. Morfologia do terreno é expressão gorda de mais para os seus apetites. A arte também sai de mãos órfãs de livros, mas graduadas em intuição.
A paisagem duriense anda retalhada em todos os suportes. Desde o simples postal ilustrado, a rótulos de garrafas, a desdobráveis, a spots publicitários de todas as cores e feitios. Pudera! É uma senhora bonita que sucedeu a uma moçoila gaiata e espevitada. Só em indesejáveis e infindos Invernos se descuida de vestes e maquilhagem, como certas senhoras em declive de vida. Então descolora-se, chora, fantasmagora-se, não consegue disfarçar rugas e pele gretada. Decrépita, enxovalhada, sem viço nem vício, inveja destino das aves que lhe chilreiam os ares e lhe debicam doçuras.
Se há coisa de que não pode acusar-se esta região demarcada e premida (para afago de almas ferrenhas de Douro), é a monotonia dos seus cenários. Esbanjando charme, mesmo não mudando de actores, modula-se em poses icónicas, de preferência ensolaradas e refrescadas pelas águas risonhas. É terroir muito nosso, a pedir meças a concorrentes de Franças e Alemanhas (e não só).
Ora aqui está uma gracinha. Tipo presente de assiduidade, encore de concerto. Uma surpresa a conduzir olhos de lembranças insulares até à ilha do Pico, também património da Unesco, também arregaladora de olhos turísticos. No Pico a vinha é história aos quadradinhos. São currrais feitos mosaicos, aquecidos por restos de lava, debruados de pedra negra.
Douro e Pico. Amizades com Atlântico a meio, evitando amuos e ciumeiras, puxares de galardões, concorrência. A haver competição vinícola, decerto haveriam de ganhá-la entranhas geradoras de vinho fino…
M. Hercília Agarez
Vila Real, 09 de Outubro
Fabulosa fotografia !!!
ResponderEliminar..Um texto ...entusiasmante " ...!!