Foto: josé alfredo almeida |
Não passam
cães pela vinha vindimada. Expurgada, com mais ou menos subtileza, das razões
de ser da sua existência, ela mantém uma dignidade vistosa, uma compostura
senhoril. Repousa, no silêncio e na solidão. Foram-se os roncos agressivos e o
cheiro a gasóleo dos tratores, calaram-se vozes vindimadeiras, faladas e
cantadas, recolheram aos seus aposentos plásticos de baldes e de sacos que pontilharam
de negrume a gaiata paisagem, despertando em saudosistas um amargo relembrar do
vime de cestas e de cestos.
Neste Outubro de pleno Outono, queimam as
vinhas os últimos cartuchos do seu esplendor. O sol fá-las rebrilhar, com as
baterias ainda carregadas, numa emissão de um calor proverbialmente duriense.
O vento tem-se contido, decerto a muito
custo, ele que se compraz sadicamente a assistir a rebuliços folhais. A sua
invisibilidade não costuma ser complacente com parras paridas a exibirem um
fascínio de fim de festa.
O caminho é
uma passadeira térrea, de piso irregular e poeirento, feito de ervas e de
cadáveres de folhas insepultas, aberto para uso de pés pobres de trabalhadores
rurais. Não, não vai haver visita ministerial com a cerimoniosa revista às
tropas. Aqui as fardas são folhas e os militares cepas robustas e perfiladas.
Mesmo sem toques de clarins, abrem alas, num “engano de alma ledo e cego” que a
chuva não deixará durar muito.
[…]
Fim de parto ou de vida, ninguém sabe
A medida precisa que lhe cabe
No tempo, na alegria e na tristeza. […]
M. Hercília Agarez
Vila Real, 16 De Outubro
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