quinta-feira, 17 de novembro de 2016

O Douro tem mais encanto...

Foto:josé alfredo almeida


Todos os tons como numa rosácea, todas as cores como num vitral.
                                                                                                          
Pina de Morais



Não deram ainda por findo o seu papel no palco da natureza vinhateira. Foram valentes parideiras de cachos úberes protegidos por pâmpanos arrebicados. Permitiram, impotentes, que invadissem a sua privacidade tesouras de poda e facas afiadas, agressoras. Levaram-lhes os filhos, aconchegados em cestas berços. Deixaram-nos ir. Sacrificaram-nos a Baco/Dioniso. Ou ao Homem. Ao Homem do Douro. Àquele que tem nelas, vinhas cuidadas como se gente fossem, a sua riqueza e a sua alegria. O seu orgulho e a sua vaidade. Antes de o lavrador sofrer uma má colheita, já elas foram golpeadas por gelos e granizos. Já elas tremeram espavoridas com medo às trovoadas.
Acabada a festa, abençoada (ou castigada?) por eflúvios ainda estivais, cada trabalhador regressa a sua casa ainda embriagado de cheiro a mosto. Missão cumprida. Desertas, repousam as guerreiras, estendidas ao sol, como lagartos. Dão ares das suas graças coloridas. Exibem-se em seus trajes de cerimónia. Está a chegar a hora da despedida, aquela que dizem ter mais encanto.
Admiradores dos seus novembros captam-lhes a magia cromática. Param e olham. Nada escutam porque a passarada foi chilrear para outras freguesias. Resta a paz da beleza silenciosa.



Vila Real, 16 de Novembro de 2016

M. Hercília Agarez

2 comentários: