Prof. Orlando de Carvalho (1926-2000)- Foto cedida pela sua prima D. Maria Otília Figueiredo |
"Tenho terríveis contas com a Divindade, mas o meu Deus é um Deus de misericórdia"
Orlando de Carvalho
"Da nossa curta ou longa experiência, quantos professores seríamos nós de arquivar nos ficheiros da memória? Ou para empregar uma linguagem de cunho menos arquivístico, quantos reservaríamos nós para figurarem no íntimo da gloria das pessoas que nos marcaram em sentido benéfico e, por isso, as achamos dignas de serem içadas ao pedestal da nossa admiração? Certamente poucos, muito poucos. Chegariam a meia dúzia? Professores a sério, tanto no sentido pedagógico, como humano (e as duas coisas acho eu que indestrinçáveis) grandiosos pelo seu saber e pela forma "amorosa" - digamos- "apaixonada" como o souberam transmitir, mestres no exemplo cívico em que também souberam pôr escrúpulo, poucos terão alcançado assim a bossa admiração. Tive alguns desses, felizmente, para meu proveito e exemplo. Um desses professores, que figura em relevo luminoso na minha memória e na de muitos meus companheiros, é o Professor Orlando de Carvalho.
Rigoroso, exigente, era com todos e, se possível, mais com os amigos. Mas essa era a sua ética indefectível. Estou convencido de que tinha a fama de "terrível" que mais tarde veio a granjear se deve a esse espírito rigoroso, exigente e intransigente na verdade que exigia de si mesmo e dos outros. Isto, apesar das suas perrices e defeitos, que também eram acentuados. Mas quem teve o ensejo de conhecer o seu espírito aberto, indomável, a sua vastíssima erudição, o seu quer pulsar ao ritmo de um tempo outro que não era da nossa anacrónica insularidade, a sua generosidade e capacidade de doação, a sua amizade, que era inimiga do "porreirismo" e do "deixa andar", a sua solidariedade insolidária com os pergaminhos de uma docência majestática, a sua cumplicidade com as lutas estudantis, há-de recordar-se dele como um verdadeiro Mestre."
Artur Costa in Jornal de Noticias, de 30 de Março de 2002
"Espero que se confirme a sua fé em uma outra vida. Lá terá a alegria de encontrar o seu pai e todos que amou e já partiram. E terá a sua suprema ventura de encontrar a sua mãe, que tinha estrelas no seu sorriso, "(...) estrelas/Tão brilhantes, tão claras,/Como devia ser a luz do paraíso".
Até sempre, Doutor Orlando de Carvalho. Os que tivemos o privilégio de ser seus alunos, seus colegas recordá-lo-emos, enquanto formos vivos, comovidamente e com imensa saudade."
António José Avelâs Nunes
Pequena nota: Andei este tempo todo da minha vida, desde que saí dos bancos da Faculdade Direito de Coimbra, para agora saber pelos oitenta e muitos anos de vida feliz e sorridente da D. Maria Otília Figueiredo, uma esquecida e simpática mestre-escola da nossa terra, que o seu sangue materno do meu ilustre professor Orlando de Carvalho - esse poeta e homem genial do pensamento e da acção cívica -, na cadeira de Direitos Reais, era genuinamente reguense, já que a sua querida Mãe, Leonia Ester Alves (falecida em 1968), ela que foi professora interina na Escola Mista de Passos e veio a casar em 1923 com Albino de Carvalho, natural de Santa Marinha do Zezêre e pai do nosso Mestre, - "... que foi toda a vida um mestre-escola e dedicadíssimo professor. Um mestre- escola -,na escola e na vida. Já não precisamos de escolas, já já não precisamos de mestres? Deixa-se aqui singelamente a pergunta."(como Orlando de Carvalho escreveu em 1993 numa colectânea de recolha de escritos da autoria do pai), era natural da freguesia de Mouramorta, concelho do Peso da Régua.
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