Foto:josé alfredo almeida |
Estas folhas que estremecem na tarde
não sabem que dançam
à roda do universo
José Tolentino de Mendença
Cá connosco não há complexos de
inferioridade arbórea. Somos vizinhas das vinhas. Amanta-nos o mesmo sol,
prateia-nos a mesma lua, chegam-nos frescuras das mesmas águas, sobrevoa-nos a
mesma passarada. Quando elas (as folhas) se vermelham e acastanham, e atijolam,
nós primamos pela fidelidade ao amarelo, jurada perante as ninfas do Douro, de
papel passado…
Amarelo. Cor de má fama em expressão
esfrangalhada pelo uso: “se não fossem os gostos, que seria do amarelo!”
Saiamos, pois, em sua defesa. Com que lápis desenham as crianças o sol? Com que
tonalidade acenam as “searas onduladas/ Pelo Vento” (Torga) no celeiro de
Portugal? Como se veste o mais precioso dos metais? Que coloração no esplendor
de girassóis, dinâmicos em campos de cultivo, estáticos em tela de Van Gogh? Não
são mais bonitos e icónicos os canários parecidos com limões maduros? Não
combina bem com o negro do corpo do melro macho o amarelo do seu bico? Chega,
como argumentos?
Continuemos, então. Estas árvores, espécie
de muralha ribeirinha, envelheceram sem cuidados. Não tiveram dores de parto,
logo, nada de filhos para criar. Cresceram e fizeram-se à vida sem rapapés de
podas e empas, de sulfatagens e enxertias, ninguém lhes arrancou galhos uns
para fortalecer galhos outros, mãos não lhes mexericaram entranhas em busca de
comestíveis. Gentes, sim, desfrutam-lhes frescuras sombrias, olham-nas em nostalgia
de Outono, em viço de Verão. Respeitam-lhe a compostura eréctil, o
comportamento fraterno feito aconchego de apertos. Também elas falam Régua, não
abdicando do seu papel na identidade paisagística. Delas se pode dizer que são árvores
que sabem estar…
Para rematar a minha missão arguente na
reposição da justiça devida à cor amarela, pespego aos leitores palavras sabichonas:
“Intenso, violento, agudo até à estridência, ou amplo e ofuscante como um metal
em fusão, o amarelo é a mais quente, a mais expansiva, a mais ardente das
cores”. (Dicionário dos Símbolos)
M. Hercília Agarez
Vila Real, 07 de Novembro
Que fotografia mais bela!!!
ResponderEliminarEspelhadas nas águas do Douro o belíssimo amarelo
ainda dá mais razões, para enaltecer a aparentemente
mal amada cor amarela. E eu que sempre gostei tanto dessa cor!
Nunca consegui foi defende-la de maneira tão veemente como a deste
belíssimo texto. Agradeço.
Tão "catitas "....doces .também..
ResponderEliminar..Espelho .."mágico " ..Espelho mágico..
..Tão resplandecente ..tão vibrante !!!!
FABULOSA FOTOGRAFIA !!