sábado, 3 de agosto de 2019

Nas nuvens




Para ti, meu amor, é cada sonho

de todas as palavras que escrever

cada imagem de luz e de futuro,

cada dia dos dias que viver.
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Carlos de Oliveira



    Estão nas nuvens. Depressa deram entrada nesse fofo mundo, galgando degraus do tamanho da sua pressa. La main dans la main.
     Leves de corpo, pesados de emoções. Aterraram em chão plano, seguro, como quem ganha corrida de obstáculos. Desentrelaçadas, as mãos vivem outros encontros. Umas, mais espontâneas e virgens, para anéis e afagos feitas, ancoram-se em porto seguro e tanto sorriem como boca e olhos. As outras, aguerridas, como quem salva criança de afogamento, travam um salto que de mortal só se fosse de amores.

     Ela, com uma jovialidade de soquetes, saia rodada e cabelo à garçone, parece ter asas nos pés. Já voou muito, na vida adolescente, em alturas de Ícaro, ao encontro de abstrações enfiadas em cordão de ideais, de sonhos romanticamente engendrados. Visualizou príncipes, viveu-se princesa. Tentou adivinhar o sabor de beijos, o calor de abraços, a musicalidade de frases repartidas.  Até que tudo passou a ser visível e palpável, real e concreto.
  Ele, inseguro, incrédulo da reciprocidade de afectos obsessivos, aguardou, resignada e esperançosamente, este momento a dois vivido, a dois degustado, a permitir-lhes gritar palavras, rumorejar promessas, ciciar segredos.
    As nuvens, essas, sentem-se honradas por serem guarida discreta de amores jovens, elas que sempre se ufanaram da sua pluralidade semântica.  Neste caso, o casalinho está mesmo nelas e nelas andou enquanto se eternizavam os dias da espera.

M. Hercília Agarez
Vila Real, 03 de Agosto de 2019   

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