sábado, 6 de julho de 2019

Um ramalhete de casas

Foto:josé alfredo almeida





Se eu pudesse trincar a terra toda
E sentir-lhe um paladar,
Seria mais feliz um momento

     Alberto Caeiro / Fernando Pessoa




    Uma turma de casas novas aninha-se em cibo de terra sem plantio. Combinaram tamanhos, feitios, cores. Sugerem retalho suavemente colorido em manta de verde matizado. Sossegados, fazem pela vida os vinhedos estivais. As oliveiras, essas, olham-nos das suas alturas de vocação. Nem uns, nem outras, tencionam arredar raízes daquele solo. É deles, de direito adquirido. Dali não saem…

    Não se lobriga xisto nem granito. O feio e triste betão está escondido atrás de rebocos das cores de flores fruteiras. Viver remediado e limpo, de carro à porta. Cabeças com tino o merecem.

    A sobriedade da arquitectura rural em tempo de mostruários de azulejos, de alumínios ofuscantes, de leões, dragões e águias, ao gosto do freguês. Isto também é Douro, um Douro de garras afiadas para desvirtuadores da sua fisionomia. A beleza da simplicidade. Da identidade. Do recato.


M. Hercília Agarez
Vila Real, 06 de Julho

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