sábado, 12 de janeiro de 2019

Com a devida distância...

Foto:josé alfredo almeida


    Tão curta a distância entre solidão e companhia!
    Pinheiro talvez amansado. Imponência descabida, descontextualizada. Longe do seu habitat natural. Não é ali o seu lugar. Terá fugido de convívio diário com parceiros enfezados ou a regurgitarem para saquinho de plástico? Terá querido pôr-se a salvo de sanha pirómana, assassina?
    Alguém cobiçará aquela sombra incompacta, rasgada como roupa de mendigos antigos? Não tem outros atractivos, aquele cibo de chão verde.

    Pinheiro solitário. Estugando as passadas, breve chegaria ao aconchego de calor vegetal em reunião de parentes afastados. Mas prefere olhar do seu pedestal as anoréticas vizinhas, presenças quase obrigatórias como guardiães de repousos eternos. Não no Douro. Os ciprestes, aqui, não cheiram a morte. A mosto sim, em tempo de vindima. Nas quintas onde foram eleitas, há muito, pela sua nobre postura, para servirem de recepcionistas a visitas de bom gosto que encaminham para salões solenes ou para espaços de cerimoniosas e rituais degustações de vinhos.

M. Hercília Agarez, 
12 de janeiro de 2019

1 comentário:

  1. A distância ..que se .."impõe?
    Pinheiro.."encorpado ".!
    Seu aroma "bravio..intenso"..!
    GOSTEI...


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