Publiquei aqui em 20 de Maio último
uma carta intitulada O Peso de Regra,
na qual me referia à capela da Misericórdia de Peso da Régua como uma das mais
bonitas igrejas existentes em Portugal e acrescentava que não se sabia
praticamente nada sobre o edifício. Graças a José Alfredo Almeida um amigo da
sua terra, fiquei a conhecer outra bela obra na Régua, o Quartel dos Bombeiros
Voluntários construído em duas fases entre 1929 e 1955 com o projecto do
arquitecto Francisco de Oliveira Ferreira (1884- 1957), o autor também creio
eu, do palacete dos Barretos, hoje Biblioteca Municipal da Régua.
A Régua conta com vários edifícios de
qualidade registados pelo Serviço de Inventário do Património Arquitectónico (não
o Quartel dos Bombeiros infelizmente): a Câmara, a Igreja Paroquial, a capela
da Misericórdia, a capela do cemitério, o atual Centro de Saúde, a sede local
da Caixa, os Correios, o Tribunal, a estação de CF, as pontes metálica e
rodoviária sobre o Douro. O Museu do Douro constituído por edifícios antigos
recuperados e uma adição muito moderna, também ajuda a que a Régua seja que uma
terra que vale a pena visitar.
O arquitecto Francisco de Oliveira
Ferreira é conhecido sobretudo por quatro edifícios, embora tenha projetado dezenas
deles no Porto, em Gaia, nas regiões Norte e Centro. Esses edifícios são a
Câmara de Gaia, o café A Brasileira,
no Porto, o Hotel Astória, de longe o melhor edifício da margem direita do
Mondego em Coimbra, e a chamada Clínica Heliântica de Francelos ou Valadares que
franqueou a entrada do arquitecto nos higiénicos registos da arquitetura
modernista porque não tem telhados (os modernistas benzem-se de horror cada vez
que vêem um telhado num edifício recente), sendo constituído essencialmente por
largo terraços sobre pilares, necessários aos tratamentos por exposição ao sol
em que se acreditava muito na época.
São característicos na arquitectura
da segunda metade do século XIX e dos primeiros anos do século XX o género de vãos,
molduras e remates de pedra com que Oliveira
Ferreira compunha e ornamentava as suas obras, diferentes daqueles que se
utilizavam em séculos anteriores mas de idêntico ao carácter: janelas duplas ou
semicirculares (como as do Quartel dos Bombeiros que admitem uma luz belíssima
no interior), arcos abatidos, mísulas agudas ou alongadas, pináculos.
Neste quadro, não tenho a certeza de
que a capela da Misericórdia da Régua tenha sido projectada por Oliveira
Ferreira. Parece-me mais suave e mais colorida (graças aos azulejos e vitrais)
um pouco à maneira de outro grande arquiteto da época, Marques da Silva (1869-1947).
Quem sabe? A arquitetura da Régua merece uma investigação séria.
Paulo Varela Gomes
Sem comentários:
Enviar um comentário