Foto:josé almeida almeida |
Foi com todo o prazer que vi estas suas últimas fotografias,
até porque, as das pontes, me fazem vir ao de cima imperecíveis lembranças dos
meus tempos de rapazinho. E veja se não há razão para isso. Realmente, tenho em
mente - não sei se com acerto ou não, porque as certezas dos tempos de menino
são sempre relativas - que a ponte em revisão, a de ferro, era , por volta
dos anos de 1933 e 1934, concessionada ao Banco Borges & Irmão, sendo
a administração dela exercida pelo meu avô, Gaspar Monteiro, e pelo meu
padrinho, José Pereira Bastos. Acontecia, então, com uma regularidade anual,
que, nos dias das festas dos Remédios, em Lamego, o trânsito nesta ponte era
enorme, constituindo mesmo um espectáculo cheio de interesse, com os romeiros a
passarem a "pedibus calcantibus" pelo tabuleiro da ponte, onde cada
um pagava um misérrimo meio-tostão, sendo-lhes passado num pequenino bocado de
cartão o competente recibo do pagamento feito, que teriam de guardar, para lhes
dar direito à passagem de regresso. Toda esta gente, aos milhares, se ia
acumulando no largo da Ponte, onde, em descanso, ia aguardando o abrandamento
do calor, que em Setembro, ainda é muito. Abrandado o calor, em grossos cordões
iam todos os romeiros esvaziando o largo, rapando o meio-tostão do bolso,
acarretando os cestos com comida e os muitos garrafões com a bebida da região.
Alegremente, iam cantando e dançando, levando com elas muitas crianças,
provocando um imenso alarido. O meu avô, nessas alturas, organizava um farto
jantar numa das casas que havia à entrada da ponte, onde todos gostávamos de
ver aquelas pessoas, cheias de alegria, a caminho das importantes
festas de Lamego. A confusão que reinava na zona era imensa, até porque, aos
que iam a pé, se juntavam muitos carros de carreira, que vinham de várias
partes do norte, que manobravam dificilmente entre os milhares de pessoas que
se acumulavam indisciplinadamente na via pública. Enfim, um acontecimento
extremamente curioso, que relembro ainda com muita intensidade, e que, sendo um
espectáculo ajustado àquele tempo, passado quase um século, seria,
absolutamente e ainda, um apetecível espectáculo para as pessoas modernas das
gerações desta era diferente.
Está a ver para onde as suas fotos me
lavaram? Adivinha, certamente, o que elas para mim representam: a
minha satisfação por as ter recebido é grande e compreensível, porque fazem
lembrar coisas de um passado já bem distante.
E, assim, lhe deixo mais um apontamento da Régua, cuja
história me parece ser de recordar às gentes de hoje.
Um abraço,
28-12-2011
Abeilard Henriques Vilela
Bela fotografia !!!!!!!
ResponderEliminarReavivar de memórias. Bom para quem as recorda,
ResponderEliminare mais conhecimento para quem agora, pode saber
de usos e costumes de tempos passados.
É um gosto,sempre!