Abro a janela.
Não a de ontem, de portadas encarnadas, onde os meus dias
fluíam ao compasso do rio,
dias dourados e inocentes.
Janelas que me perseguem nos meus sonhos, estranhamente
fechadas. Onde alguma tristeza e distância marcam o ritmo da minha respiração.
Abro a janela às primeiras horas do dia.
Entrego-me à redescoberta dos cheiros, do verde da
paisagem, à enormidade majestosa dos montes que me rodeiam.
Aqui, mais do que em outro lugar, sinto exactamente a minha
pequena dimensão, perante a grandeza do trabalho do homem, e a maravilha da
natureza.
O rio que chamo de meu.
Belo e altivo, apesar das mudanças. De um porto de
embarque, com navios e barcos e sons estrangeiros.
Um rio do mundo.
Na essência o mesmo. Na memória, nos segredos, nas tragédias
que guarda consigo.
Nesta janela que abro todas as manhãs destes dias, de
encontro com o passado e comigo, há um diálogo entre o rio e eu.
Sei que ele me guarda e me habita,
num abraço, com o mar.
As nuvens descansam no rio, e um vento frio ainda se faz
sentir, nesta manhã.
Os meus olhos líquidos a olhá-lo, a adivinhar a sua cor,
todo o seu brilho.
Um olhar de ternura de paixão e de amor.
De tudo e de todos que fizeram parte desse correr.
Espelho de água onde me revejo, proximidade de quem me foi
essencial.
Imagens e sons, e o milagre de ser feliz, só por ser.
Numa outra vida.
Que me desenhou, amarga e doce.
Ana de Melo
..Um "inundar " de palavras ..ternas ..doces ....
ResponderEliminar..que eu tanto "gosto "...
!!!
Parabéns Ana de Melo...
é maravilhoso !!!!
Sempre uma janela aberta para a beleza das
ResponderEliminarpalavras...